ATA DA VIGÉSIMA NONA SESSÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 01.04.1991.
Ao primeiro dia do mês de abril do ano de mil
novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio
Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Nona Sessão
Ordinária da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às
quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo
respondida pelos Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Artur Zanella,
Clóvis Brum, Clóvis Ilgenfritz, Cyro Martini, Dilamar Machado, Edi Morelli,
Elói Guimarães, Ervino Besson, Gert Schinke, Giovani Gregol, Isaac Ainhorn,
Jaques Machado, João Dib, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann,
Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Luiz Braz, Luiz Machado, Mano José, Nelson
Castan, Nereu D’Ávila, Omar Ferri, Vicente Dutra, Vieira da Cunha, Wilson
Santos e Wilton Araújo. Constatada a existência de "quorum", o Senhor
Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou ao Vereador Airto
Ferronato que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. Em continuidade, o
Senhor Secretário procedeu à leitura da Ata da Vigésima Oitava Sessão
Ordinária, que foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pelo Vereador Artur
Zanella, 03 Pedidos de Informações e 01 Pedido de Providências; pelo Vereador
Edi Morelli, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 48/91 (Processo nº 835/91);
pelo Vereador João Dib, 03 Pedidos de Informações; e pelo Vereador Wilton
Araújo, 01 Pedido de Informações. Após, o Senhor Secretário apregoou o Projeto
de Lei do Executivo nº 04/91 (Processo nº 903/91). Em prosseguimento, foi
aprovado Requerimento do Vereador Adroaldo Correa, solicitando Licença para
Tratamento de Interesses Particulares no dia de hoje. A seguir, o Senhor
Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Heriberto Back e,
informando que S. Exª já prestou compromisso legal nesta Legislatura, ficando
dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de
Urbanização, Transportes e Habitação. Após, foram aprovados Requerimentos
verbais dos Vereadores Clóvis Brum, solicitando a inversão da ordem dos
trabalhos da presente Sessão, iniciando-se pela Ordem do Dia e a apreciação
nesta do Processo nº 1921/89, em segundo lugar, e Isaac Ainhorn, para
apreciação de Requerimentos logo após a deliberação do Plenário sobre o
Processo nº 1521/89. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador João Dib criticou o
Executivo Federal pela contradição entre apregoar o Código de Defesa do consumidor
e cobrar de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação o que não está
pactuado em contrato. E manifestou-se acerca do não-cumprimento, pelo Executivo
Municipal, de dispositivo da Lei Orgânica que determina a publicação de
balancetes mensais das atividades do Governo, inclusive das Autarquias. O
Vereador Lauro Hagemann relatou providências da Casa quanto a balancetes de
atividades da Administração Pública Municipal. E manifestou-se sobre invasão de
área de terras ocorrida recentemente nas imediações da Av. Bernardino Silveira
Amorim, Vila Santa Rosa, advertindo sobre a possibilidade de novas ocorrências
como essa, dada a situação da população, e enfatizando a responsabilidade do
Município diante de tais fatos. E o Vereador Artur Zanella comentou notícia
veiculada na imprensa sobre apoio dos Governos Estadual e Municipal aos
movimentos populares de ocupação de áreas de terras, sugerindo a tais
administrações que procedam à desapropriação de áreas invadidas, o que exigiam
de S. Exª quando Diretor-Geral do Departamento Municipal de Habitação. Em
prosseguimento, foi aprovado Requerimento do Vereador Décio Schauren,
solicitando Licença para Tratamento de Saúde no período de primeiro a três do
corrente, tendo o Senhor Presidente determinado que fosse convocado o Suplente
Antonio Losada. A seguir, constatada a existência de "quorum", foi
iniciada a ORDEM DO DIA. Em Votação, foi rejeitado o Projeto de Lei do
Legislativo nº 42/90, em sua parte vetada, com ressalva do destaque solicitado
pelo Vereador Luiz Braz, com relação ao parágrafo único do artigo 4°,
mantendo-se o Veto Parcial aposto ao Projeto, por oito Votos SIM contra vinte
votos NÃO. Após, foi aprovado o parágrafo único do artigo 4° do referido
Projeto, rejeitando-se o Veto a ele aposto, por dezenove Votos SIM contra nove
Votos NÃO. O Projeto de Lei do Legislativo nº 42/90 e o Veto Parcial a ele
aposto foram discutidos pelos Vereadores Ervino Besson, Vicente Dutra e Clóvis
Brum. Em Discussão Geral e Votação Nominal foi aprovado o Projeto de Lei do
Legislativo nº 101/89 e rejeitado o Veto Total a ele aposto, por vinte Votos
SIM contra três Votos NÃO e três ABSTENÇÕES, com Declaração de Voto do Vereador
Leão de Medeiros, após ter sido discutido pelos Vereadores Artur Zanella,
Clóvis Brum, Luiz Braz, Dilamar Machado, Heriberto Back, Clóvis Ilgenfritz,
Gert Schinke, José Valdir, Luiz Machado, João Dib, João Motta, Elói Guimarães e
Omar Ferri e encaminhado à votação pelos Vereadores Artur Zanella e Lauro
Hagemann. Em Discussão Geral e Votação Nominal esteve o Projeto de Lei do
Legislativo nº 44/90 e o Veto Total a ele aposto, o qual recebeu uma votação de
quatorze Votos SIM contra um Voto NÃO e uma ABSTENÇÃO, votação esta considerada
nula face à inexistência de "quorum" deliberativo. Às dezessete horas
e cinqüenta e nove minutos, considerada a inexistência de "quorum", o
Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores
Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos
foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Airto Ferronato e
secretariados pelos Vereadores Leão de
Medeiros e Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Leão de Medeiros, 1° Secretário,
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e
aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE
(Antonio Hohlfeldt): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão.
Sobre a mesa Requerimento de
autoria do Ver. Adroaldo Corrêa, solicitando Licença para Tratamento de
Interesses Particulares no dia de hoje. Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores
que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
Convocamos o Ver. Heriberto
Back para fazer a substituição do Ver. Adroaldo Corrêa, e já tendo S. Exª
prestado compromisso regimental nesta Legislatura, fica dispensado de fazê-lo
nesta oportunidade. Declaro empossado na vereança o Suplente Heriberto Back e
informo que S. Exª passará a integrar a Comissão de Urbanização, Transportes e
Habitação desta Casa.
O Ver. Clóvis Brum deseja fazer
um Requerimento.
O SR. CLÓVIS BRUM
(Requerimento): Requeiro a inversão da ordem dos trabalhos para que
entremos imediatamente na Ordem do Dia para se concluir a votação, que está em
fase de encaminhamento, do Proc. n° 0868/90, e passemos ao Proc. n° 1921/89, do
Ver. Zanella.
O SR. ISAAC AINHORN
(Questão de Ordem): Sr. Presidente, na presente Questão de Ordem
eu indago da Mesa se é possível requerer, uma vez que já teve início o Proc. nº
0868/90, já estava praticamente na fase de encaminhamento –, se pudéssemos
colocar em votação os Requerimentos, que já se constituem muitos e que estão
atrasando o material da Secretaria. Há Requerimentos importantes de renovação
de votação, cujos projetos estão parados.
O SR.
PRESIDENTE: A Mesa recebeu o Requerimento do Ver. Clóvis Brum no sentido de inverter
a ordenação da Sessão de hoje, começando pela Ordem do Dia, uma vez vencidas as
proposições que ainda não fizemos. Em segundo lugar, pede o Ver. Clóvis Brum,
na ordem, vencido o Proc. n° 0868/90, que já está em discussão, se alteraria a
ordem de votação, saltando-se os Processos nos 0871/90 e 1448/90 e
passando-se à folha 05, diretamente ao Proc. n° 1921/89. A título de
informação, eu gostaria de chamar a atenção dos Srs. Vereadores que este
Plenário decidiu, há duas Sessões, colocar o Proc. n° 1921/89 no lugar final de
votação. Foi uma decisão do Plenário, a Requerimento do Ver. Artur Zanella; o
Plenário pode reconsiderar e relocar o presente Projeto.
Quanto às Questões de Ordem do
Ver. Isaac Ainhorn, eu comunico que é impossível votar os Requerimentos antes
dos Vetos; o que se pode fazer é que, vencidos os Vetos, ou seja, até a folha
05, antes de entrarmos no conjunto de processos da folha 06 em diante – 2199/90
–, faríamos a votação dos Requerimentos e, posteriormente, continuaremos a
votação dos demais processos.
Em votação o Requerimento do Ver.
Clóvis Brum, para que haja a inversão da ordem dos trabalhos. (Pausa.) Os Srs.
Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
Em votação o Requerimento do Ver.
Clóvis Brum que solicita o deslocamento do Proc. n° 1921/89. (Pausa.) Os Srs.
Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
Em votação o Requerimento do Ver.
Isaac Ainhorn solicitando que, vencidos os Vetos, passemos à votação de
Requerimentos e, posteriormente, retomemos a votação dos demais processos
constantes da pauta do dia de hoje. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que estiverem
de acordo permaneçam como estão, os contrários se manifestem. (Pausa.) APROVADO.
O Ver. João Dib está com a
palavra para uma Comunicação de Líder.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, está cada dia mais difícil viver no
nosso querido Brasil e na nossa querida Porto Alegre. É difícil entender um
Governo que gasta muito, mas muito mesmo, na divulgação do Código de Defesa do
Consumidor, e o desrespeito é desde logo. Mostra nas televisões e mostra nos
jornais que os contratos devem ser claros, explícitos e, sobretudo,
respeitados. E este mesmo Governo, que diz tudo isto para o povo brasileiro,
está tentando extorquir do povo brasileiro que fez contratos com o Sistema
Financeiro da Habitação, com outras cláusulas que não estão pactuadas, que não
são o acordo da vontade do comprador, do mutuário e do agente financeiro. Está
querendo, agora, que aqueles que têm contrato de equivalência salarial tenham
as regras alteradas e possam ser cobrados a mais, sem que se respeite aquele
contrato, ele diz que o Código de Defesa do Consumidor deve ser explícito,
claro e respeitado, e ele está, antes de mais nada, tentando desrespeitar. Eu
acredito que a Justiça deste País não permitirá que isto ocorra.
Mas não é diferente aqui em Porto Alegre; nós temos dificuldades
muito grandes para sobreviver nesta Cidade. Algumas coisas certas estão
ocorrendo, como algumas alterações no trânsito e na área central, mas é que o
Prefeito divulga mais um dos seus panfletos, porque nisto ele é bom, e diz que
a inflação, inclusive a de fevereiro, será reposta na medida exata do
crescimento das receitas. E nós temos cópia do decreto em que S. Exª reajusta
os impostos e as taxas municipais de acordo com a TR, 7%, o que não transferiu
aos municipários. Nós ouvimos que, e está escrito, na medida exata do
crescimento das receitas. Mas nos três primeiros meses a Administração Popular
arrecadou 12 bilhões de cruzeiros de um orçamento de 24 num trimestre, portanto
é muito dinheiro e podemos prever que a arrecadação ao final do ano não será 24
e nem 48, será acima de 60 bilhões de cruzeiros e o municipário só recebe
papeizinhos.
Mas estes papéis podem circular
livremente e afrontar a todos nós, porque a Lei Orgânica clara e específica,
diz que o Poder Executivo publicará, até 28 dias após o encerramento de cada
mês, relatório de execução orçamentária dos Órgãos Administrativos Diretos e
Indiretos e da Câmara Municipal. A Câmara tem cumprido religiosamente o seu
papel editando, aqui, o balancete da Câmara, nele devendo constar, no mínimo,
as despesas e receitas orçadas e realizadas no mês e o acumulado até o mês
objeto da publicação, bem como a previsão para o ano. O Poder Executivo deverá
encaminhar à Câmara Municipal, bimestralmente, demonstrativo de fluxo de caixa
dos órgãos da Administração Direta e Indireta. Nós recebemos até novembro e sei
que no Diário Oficial já foi publicado até dezembro, mas isto não é o
suficiente para nós, nós deveríamos mensalmente ler no Diário Oficial o que
acontece, mas a Popular Administração não editou ainda os balancetes de
janeiro, fevereiro e março.
Por outro lado, o art. 121 da Lei
Orgânica diz que caberá à Comissão de Finanças e Orçamento, dentre outras
atribuições, exercer o acompanhamento e fiscalização orçamentária sem prejuízo
das demais comissões da Câmara Municipal. Isto não está ocorrendo, porque à
Comissão de Finanças no ano passado, até o mês de agosto, não havia sido
entregue nenhum, e depois entregaram todos de uma só vez. Agora, entregaram
setembro, outubro e novembro, e parou por aí. Realmente não quero culpar a
Comissão de Finanças, mas pedir à Comissão de Finanças que emita seu Parecer
para saber da inverdade aqui colocada. Eu digo, com toda a tranqüilidade, da
inverdade aqui colocada que a inflação, inclusive a de fevereiro, será reposta
na medida exata do crescimento das receitas. E gostaria de dizer que o
Município, hoje, começa a receber o IPVA, que não é muito pouco, não. Muito
obrigado.
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra para uma Comunicação de Líder.
O SR. LAURO HAGEMANN:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu quero
tranqüilizar o Ver. Dib dizendo que a Comissão de Finanças está atenta a esse
problema, e realmente houve um descompasso no recebimento de alguns balancetes,
mas estamos providenciando, junto à Secretaria da Fazenda, a regularização
desse processo a fim de que os Srs. Vereadores tenham, pontualmente, nas suas mãos,
as cópias dos balancetes preconizados pela Lei Orgânica do Município.
Mas, o que me traz à tribuna hoje
é um fato que preocupa toda a Cidade e que aconteceu no feriadão da Páscoa: a
invasão ou ocupação de uma área na Baltazar de Oliveira Garcia, ao lado do
Porto Seco, mais precisamente na Av. Bernardino Silveira Amorim, na altura do
n° 358, na Vila Santa Rosa. Lá, já existem, hoje, cerca de cinco mil pessoas,
representando umas 1.700 famílias, numa área de 29,6ha. Não é pouca coisa. Lá,
já foram construídos três casas e setecentos barracos de madeira. Eu sei que o
Ver. José Valdir acompanhou esse processo, e ele possivelmente, depois, se
quiser, poderá fazer um relato mais circunstanciado. Não estou dizendo com isso
que tenha sido ele ou alguém por ele que tenha estimulado essa ocupação; o que
eu quero chamar a atenção, relatando esse fato, é que daqui por diante, dada a
situação econômica, esses movimentos vão se avolumar na Cidade, porque as
criaturas que vivem de salários inferiores ao mínimo ou de biscates não têm
mais onde morar, estão sendo empurradas para a periferia, e não encontrando
onde se localizar, vão procurar esses vazios urbanos. Sabe-se que uma parte
dessa área pertence a um particular e outra parte, possivelmente, ao Estado.
Então, estamos tentando dirimir essa dúvida para dar um encaminhamento ordenado
a esse processo.
Mas, também quero chamar a
atenção da Casa para a responsabilidade do Município na solução total ou
parcial de problemas como esse. A minha chamada de atenção à Casa tem um
sentido: existem em tramitação três projetos que se referem ao parcelamento do
solo urbano; um deles já foi aprovado, vem outro para suprir a falta da
concessão real de uso, mas são três projetos interligados: o que dá a função
social da terra, o solo criado e o banco da terra. Esses projetos dão
instrumento ao Município para começar tentar a amenizar esse problema. Isso é
parte da responsabilidade do Município, não podemos ser inquinados – a
Administração Municipal – de responsáveis por essa situação que hoje se
verifica, porque não fomos nós que a criamos, ela é decorrente de fatos
supervenientes à vontade da Administração Municipal. Então, o que se quer dizer
a esta Casa é que precisamos ter a atenção voltada porque daqui para diante
muitas ocupações de modo irregular vão acontecer. Não estamos estimulando
ocupações irregulares, mas temos que conviver com elas e proporcionar a essa
gente um vislumbre de solução qualquer.
Era esse o sentido da minha
presença na tribuna esta tarde, Srs. Vereadores. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O Ver. Artur Zanella está com a palavra para uma
Comunicação de Líder.
Então, me congratulo com o Prefeito Olívio Dutra, me
congratulo com o Governador Collares, que, de acordo com a imprensa estão
apoiando os ocupantes daquela área bem situada perto do Porto Seco, área boa,
com bastante ônibus, e esta da Glória também, que é muito boa, onde, por sinal,
preside a Comissão dos Invadidos a nossa colega Verª Manira Buaes, do PDT.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Sobre a mesa
Requerimento de autoria do Ver. Décio Schauren, solicitando Licença para
Tratamento de Saúde no período de 01 a 03 do mês em curso.
Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores
que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO. Convoque-se o
Suplente Antonio Losada.
Havendo "quorum", passamos à
ORDEM DO DIA
VOTAÇÃO
PROC.
N° 0868/90 – VETO PARCIAL ao PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO N° 042/90, de autoria do Ver.
Clovis Ilgenfritz, que altera disposições da Lei n° 6.002, de 02 de dezembro de
1987, para ampliar a implantação do estacionamento regulamentado, liberando-o
nos sábados, domingos e feriados.
Pareceres:
-
da CRJ. Relator Ver. Vicente Dutra: pela rejeição do Veto
Parcial;
-
da CFO. Relator Ver. Luiz Braz: pela aceitação do Veto ao art. 3°, e
pela rejeição do Veto ao parágrafo único do art. 4°;
-
da CUTHAB. Relator Ver. Adroaldo Corrêa: pela manutenção do Veto
Parcial;
-
da CEDECON. Relator Ver. Cyro Martini: pela rejeição do Veto Parcial.
O SR. PRESIDENTE: A Sessão da última quarta-feira foi encerrada
por falta de "quorum", quando nos encontrávamos num processo de
encaminhamento de votação. Já fizeram o encaminhamento de votação o Ver. Luiz
Braz, pelo PTB, e o Ver. Clovis Ilgenfritz, pelo PT.
Encaminha, pelo PDT, o Ver. Ervino
Besson.
O SR. ERVINO
BESSON: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, depois de uma longa discussão sobre este Veto ao Projeto
de Lei, juntamente com o colega Ver. Clovis Ilgenfritz, nós chegamos a um
acordo, não muito bem um acordo, mas chegamos a uma definição e o Projeto de
Lei foi aprovado – o meu Substitutivo –, e o Sr. Prefeito Municipal vetou o
art. 3° e o parágrafo único do art. 4°.
Eu pediria um minuto de atenção aos
nobres Pares desta Casa. Depois deste Vereador ter analisado profundamente este
Projeto, principalmente o artigo que foi vetado pelo Prefeito Municipal, o art.
3°, que pelo menos eu concordo plenamente com o Veto do art. 3°, explico o
porquê. O que diz o art. 3°? “No estacionamento regulamentado algumas vagas
serão reservadas para a operação de carga e descarga de mercadorias,
relativamente às quais não será exigido o pagamento”.
Vejam, Srs. Vereadores, fica muito
confuso até em alguns locais para que as pessoas tenham o direito em frente aos seus estabelecimentos comerciais
para ali receberem as suas mercadorias e têm o direito, essas pessoas, essas
empresas de não pagarem o estacionamento. Mas aí nós vamos discriminar outros
comerciantes que se encontram nas mesmas ruas. Então, neste artigo, estou de
pleno acordo, até pediria aos nobres Vereadores da minha Bancada para
que nós mantivéssemos o Veto ao art. 3°. E na mesma idéia, o parágrafo único do
art. 4°, que diz o seguinte: “O Município fica autorizado a explorar, direta e
indiretamente, os locais públicos destinados ao estacionamento pago, cuja
arrecadação será recolhida ao erário municipal”. Então vejam, Srs. Vereadores,
eu creio que nós não podemos trazer para esta Casa uma decisão do Executivo
Municipal.
Portanto, apelo à minha Bancada para que
mantenhamos o Veto ao parágrafo único do art. 4°, porque o corpo do Projeto já
diz tudo. E a Cidade de Porto Alegre, depois de muitas discussões, depois de
muitas trocas de idéias, nós conseguimos aprovar este Projeto que traz um
grande benefício à nossa Cidade. Sabemos, nós, que em muitas ruas da Cidade de
Porto Alegre os proprietários de automóveis estacionam pela manhã, ficam o dia
todo atrapalhando o trânsito e atrapalhando os comerciantes, aquela confusão
toda que nós conhecemos. E esse Projeto eu tenho certeza de que vai moralizar
diversas ruas da Cidade de Porto Alegre, não só as ruas centrais, mas outros
locais de grande fluxo de automóveis. Então, este Projeto abrange todas as
áreas e não somente o centro da nossa Cidade de Porto Alegre. Eu pediria, para encerrar,
a manutenção do Veto do Prefeito Municipal ao art. 3° e ao parágrafo único do
art. 4°. Como no corpo do Projeto já consta, não precisamos estar aprovando,
porque mais é um oportunismo do que uma coisa que vai beneficiar a Cidade.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vicente Dutra.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Projeto de Lei, de autoria do Ver.
Clovis Ilgenfritz, é um bom projeto porque amplia algo que deu certo no Centro
da Cidade e que já deveria ter sido implantado, há muitos anos, em Porto
Alegre. O mérito é da Administração Popular em ter tido a iniciativa. Contudo
esta Casa, ao examinar o Projeto, estabeleceu através de Emendas a reserva para
estacionamento de carga e descarga nestes locais de áreas úteis. E o Sr.
Prefeito veta. Um dos vetos do Sr. Prefeito é relativo a isso aí. E a razão que
o Sr. Prefeito veta é, no mínimo, confusa. Até a forma gráfica com que ele
apresenta a razão, dizendo que, se estabelecida a reserva para estacionamento
iria desorganizar o trânsito. E coloca o termo “desorganizar” entre aspas. Quer
dizer, nem o próprio Executivo estava acreditando naquilo que estava falando.
Se ele acreditasse na palavra desorganizar em toda a sua plenitude, jamais ele
poderia colocar entre aspas. Quando se coloca entre aspas, significa que nós
estamos tendo dúvidas ou estamos tentando menosprezar aquele termo com o qual
estamos nos dirigindo.
Então, vejam, na razão o Sr.
Prefeito não tem certeza e assinou uma Exposição de Motivos mal redigida e mal
fundamentada. É confuso, Ver. Ervino Besson, porque jamais pode ser confuso
deixar reservada uma área para carga e descarga. Não deixar reservado um local
para que possa ali descarregar ou carregar, zona especialmente onde tem
comércio, aí a confusão é total. Vejam bem, aqui no Projeto de Lei não
estabelecesse quem vai deferir essas áreas. É o Legislativo? Seria demasia o
Legislativo querer entrar numa seara que é de exclusiva competência técnica da
Secretaria Municipal dos Transportes. Apenas consta na Lei que nas áreas
verdes, Ver. Clóvis Brum, haverá uma reserva para estacionamento de carga e
descarga. Só isso. Eu não consegui entender até agora por que o Sr. Prefeito
vetou um dispositivo tão importante para a organização do trânsito na nossa
Cidade. Mais adiante o Sr. Prefeito vetou também uma Emenda, se não me engano
do Ver. Leão de Medeiros, que estabelece que toda vez que uma área for
escolhida para ser implantada de área verde, esse Projeto vem à Câmara, caso a
caso, para que possamos examinar, e certamente contribuirá, porque nós
representamos a voz da Cidade, e é importante que se diga que nós temos esse
condão de representar, efetivamente, a comunidade.
Mas a implantação de uma área
verde tem implicações de contratações. Nós sabemos que existe cerca de 25
funcionários pagos pelo Município para fiscalização dessas áreas azuis, e
concursos serão feitos. Ora, a Câmara não pode ficar alheia a este universo de
assuntos que envolvem a implantação de uma futura área azul. O Projeto é bom,
nossos cumprimentos à iniciativa do Ver. Clovis Ilgenfritz, mas as Emendas que
foram apresentadas pela Administração não são boas. A primeira é muito confusa,
quando não quer reservar uma área para carga e descarga – eu não consegui entender
– dizendo que essa reserva iria desorganizar. Ao contrário, a reserva vem
organizar. A segunda quer até retirar dos Vereadores este poder do povo que nós
temos e dizer se realmente naquela rua, naquela área da Cidade será importante
a implantação de uma área azul.
Eu conclamo os Srs. Vereadores,
colegas, que, de forma unânime, se derrube, se vote a favor das duas Emendas
que estavam no Projeto, dizendo “Sim” ao Projeto e “Não” ao Veto, favoráveis ao
Projeto, assim como estava na Redação Final encaminhada ao Sr. Prefeito. Muito
obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clóvis
Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Eu vou fazer este breve encaminhamento, Ver. Wilton Araújo, em homenagem
ao Ver. Clovis Ilgenfritz, porque ele foi uma pessoa que na Secretaria do
Planejamento serviu muito bem. Foi um grande Secretário do Planejamento. Agora,
eu fico preocupado, Ver. Clovis, é que se esse art. 4° caindo não vai
prejudicar o planejamento da Cidade, planejamento que passou por esta Casa.
Ver. Wilton Araújo, eu chamo a atenção de V. Exª, que foi Secretário de Obras,
e chamo a atenção da Bancada do PDT, cujos integrantes muitos dos quais
participaram da administração municipal, o art. 4° estabelece os
estacionamentos. O parágrafo único é o freio que dá ao Legislativo de não ver
mutilado sem passar pela Casa o Plano Diretor, e o Ver. Clovis Ilgenfritz sabe
disso. O Ver. Clovis Ilgenfritz é uma pessoa por quem eu tenho uma estima muito grande pela sua familiaridade
com as coisas do Plano Diretor desta Cidade, pelo zelo que S. Exª sempre
desempenhou como Secretário do Planejamento, pasta da maior relação ao assunto.
Eu fico preocupado, se nós
mutilarmos o parágrafo único do art. 4°, esses estacionamentos não serão
criados como bem entende o Executivo e poderão, em alguns casos, serem
implantados em áreas cuja finalidade, segundo o Plano Diretor, sejam
incompatíveis, ou seja, se altera indiretamente o Plano Diretor. Poderá ocorrer
isso aí. O parágrafo único do art. 4° estabelece o quê? Que passem pela Câmara
esses projetos. Por que passar pela Câmara, Ver. Ervino Besson? É para que o
Executivo não atropele o Plano Diretor que é Lei Complementar desta Casa. Daqui
um pouco mais nós poderemos estar colocando um estacionamento numa área de
preservação ecológica, por exemplo, ou em qualquer outra área. Não é
possível, não! Tudo é possível, Ver. Gregol. Parece-me, Ver. Clovis, que fui
muito rigoroso na afirmação, mas acho que estas coisas que envolvem o Plano
Diretor ou o dia-a-dia da nossa Cidade, elas devem passar pela Câmara, fica
bem, Ver. José Valdir. O Plano Diretor é uma coisa que dá muito trabalho, Ver.
Besson, para ser aprovado nesta Casa, e de uma hora para outra, entregamos de
mão beijada. No que vai prejudicar o Executivo a manutenção desse parágrafo? Em
nada, e, aliás, digo eu, a existência deste parágrafo foi a tônica do discurso
do PT antes de ser Governo, a transparência, em tudo, até no estacionamento
pago. Por que o Prefeito vai omitir à Casa quanto vai se cobrar, qual a base de
arrecadação, qual a área que vai constituir o estacionamento pago e que vai
refletir em benefício da Cidade? Quanto mais transparência melhor para o
Prefeito, melhor para a sua equipe de trabalho, melhor para a sua
Administração, e não vejo motivo de aceitar o Veto ao parágrafo único do art.
4°, Vereador. Nenhum argumento é forte capaz de retirar desta Casa medidas de
transparência da Administração Municipal. Portanto, encaminhamos em favor do
Projeto e contrário ao Veto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Não há mais encaminhamentos. Em votação. Relembramos que foi aprovado,
na Sessão anterior, Requerimento do Ver. Luiz Braz, para votar com Destaque o
parágrafo único do art. 4°. Portanto, nesse sentido, votaremos primeiramente o
Projeto e, posteriormente, o Destaque com o mesmo ritual.
Com a palavra o Sr. Secretário
para que proceda à chamada nominal dos Srs. Vereadores.
O SR. 1° SECRETÁRIO: (Procede à chamada e coleta os votos dos Srs. Vereadores.) Sr.
Presidente, 08 Srs. Vereadores votaram SIM e 20 Srs. Vereadores
votaram NÃO.
O SR. PRESIDENTE:
REJEITADO o PLL nº 042/90, em sua parte vetada, com ressalva
do Destaque solicitado pelo Ver. Luiz Braz.
(Votaram SIM os Vereadores Artur Zanella,
Clóvis Brum, Edi Morelli, João Dib, Leão de Medeiros, Luiz Braz, Mano José e
Vicente Dutra. Votaram NÃO os Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt,
Clovis Ilgenfritz, Dilamar Machado, Ervino Besson, Gert Schinke, Giovani
Gregol, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Motta, José Valdir, Letícia Arruda,
Luiz Machado, Nelson Castan, Nereu D’Ávila, Omar Ferri, Vieira da Cunha, Wilson
Santos, Wilton Araújo e Heriberto Back.)
O SR. PRESIDENTE: Vota-se, agora, o parágrafo único do art. 4°. Solicito ao Sr. Secretário
que proceda à chamada nominal dos Srs. Vereadores.
O SR. 1° SECRETÁRIO: (Procede à chamada e coleta os votos dos Srs. Vereadores.) Sr.
Presidente, 19 Srs. Vereadores votaram SIM e 09 Srs. Vereadores votaram NÃO.
O SR.
PRESIDENTE: APROVADO o parágrafo único do art. 4° do PLL nº 042/90, considerando-se
rejeitado o Veto a ele aposto.
(Votaram SIM
os Vereadores Airto Ferronato, Artur Zanella, Clóvis Brum, Dilamar Machado, Edi
Morelli, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, Leão de Medeiros, Letícia
Arruda, Luiz Braz, Luiz Machado, Mano José, Nelson Castan, Nereu D’Ávila,
Vicente Dutra, Vieira da Cunha, Wilson Santos e Wilton Araújo. Votaram NÃO os
Vereadores Antonio Hohlfeldt, Clovis Ilgenfritz, Ervino Besson, Gert Schinke,
Giovani Gregol, João Motta, José Valdir, Omar Ferri e Heriberto Back.)
Parecer:
- da CRJ. Relator Ver. Elói Guimarães: pela
aceitação do Veto.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão o PLL n°
101/89. (Pausa.) Com a palavra, para discutir, o Ver. Artur Zanella.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, eu distribuí hoje pequeno estudo e uma cópia da
Constituição Brasileira porque eu, quando discuto o Veto, eu discuto aquilo que
o Sr. Prefeito vetou. E ele vetou este Projeto dizendo que é inconstitucional
pelo art. 22 da Constituição Brasileira, é só isso. Diz que o projeto é bom,
enfim, mas diz que é inconstitucional, porque segundo o Sr. Prefeito trata do
Direito do Trabalho, e pelo art. 22 isso seria privativo da União.
Eu, examinando a Constituição, vejo que efetivamente o art.
22 diz o seguinte: “Compete privativamente à União legislar sobre Direito Civil
e do Trabalho”. Eu até admito que uma legislação sobre os direitos dos
trabalhadores deva vir de lá, mas neste caso esse direito que nós estamos
falando é o Direito Jurídico, é uma vantagem ao trabalhador e, inclusive, fora
do expediente do seu horário de trabalho. Mas vamos supor, Ver. Omar Ferri, que
é um jurista, senhores advogados, se nós formos levar a fundo o que diz o Sr.
Prefeito, nós não podemos legislar, e nem a Prefeitura, sobre desapropriações,
sobre água, sobre regime dos portos, navegação fluvial, e esta Casa aprovou o
Projeto do Ver. Ruas. Não podemos tratar, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, e
nem a Prefeitura pode tratar de trânsito e de transporte, e o que mais se trata
nesta Casa é de trânsito e de transporte, e há poucos minutos aprovamos projeto
sobre a matéria. Não podemos, nem o Estado, tratar do sistema cartográfico ou
de atividades nucleares de qualquer natureza. E aqui nós aprovamos, Ver.
Ferri, um Substitutivo seu sobre produtos contaminados nuclearmente, aprovamos
há poucos dias o Projeto do Ver. Mano José sobre propaganda nos próprios
municipais.
O Sr. Luiz Braz: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Aí V. Exª tem que ir lá para o art. 30 da
Constituição, que diz que o Município legisla sobre os assuntos do seu
particular interesse, e todos esses assuntos que V. Exª citou são assuntos que
competem ao Município, eles fazem parte do interesse do Município e por isso
mesmo é que nós não apenas podemos, como devemos, legislar sobre eles. Muito
obrigado.
O SR. ARTUR ZANELLA: Então,
essa idéia do privativo não é tão radical assim. E depois, Ver. Luiz Braz, o
art. 23 diz que: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios combater as causas da pobreza, os fatores de
marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos” e,
também, “fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento
alimentar”. Mais do que isso, Ver. Luiz
Braz, é impossível! Está se incluindo claramente.
Quanto ao Parecer do Sr. Prefeito Municipal, eu tenho também
um estudo do Vice-Presidente da Assembléia, Marcos Rolim, do PT, que,
utilizando-se de um trabalho do Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito, diz que: “o
trabalho denominado zona cinzenta sugere que, além da liberação ou do bloqueio
do Projeto, a Comissão permita a tramitação em caso de inconstitucionalidade,
seja de caráter sanável ou não-essencial, onde a imperfeição não comprometa a
validade do ato”. Esse é o Parecer do Vice-Presidente da Assembléia, Marcos
Rolim, do PT, seguindo um trabalho feito pelo Dr. Tarso Genro.
Mas diz, também, que na Justiça cairia esse Projeto. Então,
o Prefeito não quer que haja lides na Justiça. Já houve essa lide no Rio de
Janeiro. As entidades patronais entraram na Justiça pedindo uma liminar e
perderam, porque o Desembargador, cujo nome já distribuí para todos os
senhores, disse que isto não é direito do trabalho, inclusive porque é fora do
expediente. De mais a mais, quem é que foi defender esse Projeto no Rio de
Janeiro? O Prefeito Marcelo Alencar, do PDT. O Vice-Prefeito Roberto D’Ávila
foi lá entregar, foi aprovado por unanimidade, como o foi aqui. E mais, Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, o próprio trabalho da Federação das Indústrias do
Rio de Janeiro, diz que não é a Prefeitura que tem que fazer esse tipo de
legislação, ela, a Federação das Indústrias, diz que 80% das empresas
industriais do Rio de Janeiro já dão café da manhã. Eu pergunto: é tão difícil
assim? O Dr. Ughini tinha me dito que é impossível dar café porque tem que
arrumar panela e tem que achar o leite. Não é nada disso, tenho aqui nas minhas
mãos, foi distribuído nos gabinetes, hoje, o acordo do Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria do Vestuário de Porto Alegre, estão sentados lá nos
fundos, e neste acordo entre as empresas e o Sindicato das Indústrias está bem
claro: “As empresas possibilitarão aos seus empregados o consumo de café
matinal dentro das características a seguir estabelecidas, constituidoras de
condições inarredáveis para a concessão. A refeição será constituída de uma
xícara de café, acompanhada de um pão de trigo de 50 gramas. Os empregados
poderão consumir a refeição num período que há de situar-se de 30 minutos e 10
minutos antes do início da jornada normal”. Está aqui dia 6 de dezembro de 1989
faz mais de ano, Sr. Presidente e Srs. Vereadores que os empregados das
indústrias do vestuário de Porto Alegre fizeram o acordo.
O Sr. Clovis Ilgenfritz: V. Exª permite um
aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, estou aqui assistindo ao seu
esforço para convencer a Casa, semi-vazia, de que temos que dar café da manhã
para os pobres que não têm o que comer. Eu acho infeliz do povo que precisa
fazer isso, porque isso aí é aquela história: dar esmola para continuar
escravo. Confesso, na atual circunstância, acho que tem que dar, mesmo!
Mas, por que tem que dar? É bom que isso fique claro, nunca discutimos o
mérito, a profundidade da causa, e hoje todos vêm como beneméritos, dar um
cafezinho para o pobre continuar a ser pobre, para ser escravo. Isso me deixa
revoltado, gostaria que constasse, não vou dar minha opinião definitiva porque
vou acompanhar a Bancada.
O SR. ARTUR ZANELLA: Concordo
com V. Exª e digo: infeliz do país que precisa, só que este País precisa, no
momento! Agora, Ver. Clovis, eu tenho um estudo da Universidade de São Paulo,
pretendo encaminhar a V. Exª, que diz que aumenta em 22% a produtividade e
diminui em 40% os acidentes o simples fato de uma pessoa que deixou a alimentação
para seus filhos, para sua família, poder tomar um café reforçado pela manhã.
Os sindicatos porto-alegrenses insistem na aprovação desse Projeto.
O Sr. Clovis Ilgenfritz: É preciso melhorar o
salário, o poder aquisitivo!
O SR. ARTUR ZANELLA: Isso, nós melhoraremos o poder aquisitivo e
o salário. O Dr. Olívio Dutra tem toda a possibilidade de fazer isso, o Dr.
Collares, agora, também vai ter, o Dr. Collor vai ter. Mas, o que estou
propondo, Ver. Clovis Ilgenfritz, é que aquelas pessoas que não recebem esse
tipo de alimentação possam inscrever-se. O Sindicato dos Trabalhadores na
Indústria do Vestuário tem um esquema, a pessoa precisa se inscrever para que
não haja a impossibilidade fática desse fornecimento. Para isso, o nosso
Projeto dá seis meses de adaptação. Então, é uma questão clara, claríssima, e
veja, o Município de Alvorada já tem
esse projeto, o Rio de Janeiro tem esse projeto, Bento Gonçalves tem esse
projeto, dezenas de municípios já têm esse projeto aprovado, e até hoje a
Justiça não cassou nenhum; nenhuma lei nesse sentido foi considerada
inconstitucional. Quem considera inconstitucional são os tribunais, e não o
parecer, e o Tribunal do Rio de Janeiro, através do Desembargador Cláudio Viana
de Lima, indeferiu a liminar pedida pelas classes patronais em 30 de agosto de
1989, mais de ano, e não elas conseguiram, até hoje, derrubar esta lei em lugar
nenhum.
Não quero que esta Câmara, a Casa do Povo de Porto Alegre, derrube isto que os tribunais não conseguiram derrubar. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu vou tentar discutir em poucos minutos e faço uma homenagem, a
segunda homenagem que presto ao Ver. Clovis Ilgenfritz, nesta tarde, pela
recente intervenção que fez contra a miséria, contra os baixos salários.
A Administração do PT auxilia uma série de
trabalhadores com uma alimentação complementar, a Administração de V. Exª, a
Administração Popular. E inúmeros presidentes de associações comunitárias
ligadas ao PT, e até Vereador do PT, hoje na Câmara Municipal, que presidia
associação comunitária, participava daquele festival de distribuição do famoso
tíquete de leite. Naquela hora não diziam que não deviam distribuir. Segundo
informações, a bem da verdade, me parece que o único presidente de associação
que não quis distribuir o tíquete do leite perdeu a eleição na sua associação,
mas o resto todo distribuiu o tíquete do leite. O Ver. José Valdir foi obrigado
a fazer, porque a associação assim opinou, e ele, democraticamente, teve que
seguir a orientação. Mas,
rigorosamente, e estou muito à vontade para falar sobre o tíquete do leite, que
não conheço, acho que ajuda muita gente. A alimentação complementar, em setores
da Administração do Município, ajuda. Ou daqui a um pouco mais o Ver. Clovis
Ilgenfritz vai dizer que a merenda escolar na escola pública é desnecessária,
que tem que aumentar o salário do País. Este é o ideal, este é o sonho, mas
entre o sonho e a realidade há uma tremenda diferença. Hoje, milhares de
crianças vão à escola pública por causa da merenda. Aliás, durante a greve do
magistério, eu não sei se estão distribuindo a merenda. Na vez passada,
distribuíram merenda nas escolas. Tinha lá um grupo de professores e
funcionários que distribuíam merenda nas escolas, por quê? Porque se sabe que a
merenda, mais do que uma complementação alimentar, às vezes, é a única
alimentação do dia de uma criança. E com estes salários e com estas esperanças
de dias sem melhores salários, com a recessão mais desenfreada que já se viu,
que já assolou este País, sonhar com melhores salários? É sonho, mesmo! Então,
vamos viver o momento, vamos pôr os pés no chão, vamos fornecer e oportunizar
aos empresários bem intencionados de Porto Alegre que forneçam o café aos seus
empregados, como já faz aos empregados um Sindicato, que tem alguém
representando aí.
Então, não é um fato novo. O ideal, Ver. Clovis Ilgenfritz,
realmente, seria que não precisasse estas complementações, que o salário do
nosso trabalhador tivesse condições, ele por si; não justificar este tipo de
intervenção do Poder Público. Mas nós sabemos que o salário é baixo. Num
amanhã, Vereador, queira Deus, e que não seja muito distante, possamos até
retirar isso aí, mas no momento este café tão importante para os trabalhadores,
eu lamento que o Prefeito Olívio Dutra, homem que se diz ligado à classe
trabalhadora, tenha vetado, porque, acima dos formalismos e das dúvidas
jurídicas, o Prefeito Olívio Dutra representa também os trabalhadores, como
Prefeito da Cidade. Não acredito que este Veto tenha sido um momento de
felicidade do Sr. Prefeito. Agora, acredito, sim, que a Bancada do PT, pelo que
tenho constatado, vai votar contra o Veto do Prefeito, vai votar pela
manutenção do Projeto, e aí eu diria que a Bancada do PT, assim agindo,
demonstrará que não perdeu a centelha divina que trouxe nas suas origens de
partido popular, centelha esta perdida pelo Prefeito ao assinar este Veto.
Infelizmente, neste momento, eu não sei o que pensava o Prefeito Olívio Dutra.
Mas vamos votar com o Projeto, contra o Veto.
Eu diria, Ver. Clovis Ilgenfritz, que não são só sonhos, eu
acho que realmente o salário do trabalhador, hoje não dá para comer
condignamente. Mas enquanto não vem um salário melhor, pelo menos, o café vai
ajudar e muito. É uma pequena coisa, mas vai ajudar essa gente. Paternalismo?
Ato de caridade? Seja lá como entenderem, mas é comida na barriga dessa gente
que está com fome, sim, e não podia o Prefeito Olívio Dutra fazer olhos e
ouvidos de mercador e simplesmente vetar porque a Constituição diz isso. O
Deputado do PT, Rolim, está pedindo à Comissão de Justiça da Assembléia que a
matéria, na dúvida, deixe-se tramitar. Eu também tenho as minhas dúvidas com
relação ao aspecto da legalidade, tanto que nesse aspecto, como integrante da
Comissão de Justiça e como advogado acompanhei o Relator, o Parecer, quanto ao
aspecto da legalidade, porque na Comissão de Justiça nós não podemos dizer se é bom ou se é ruim, se é
legal ou não. Entendeu a Comissão de Justiça, e eu acompanhei, pela
ilegalidade. Mas o Prefeito pode analisar o interesse público, pode analisar o
mérito e pode analisar a constitucionalidade. Ele se limitou apenas a analisar
a constitucionalidade, e em cima disso deu o seu Veto. Portanto, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, com relação ao mérito do Projeto, eu vou
acompanhar o Projeto.
O Sr. Heriberto Back: V. Exª permite um
aparte? (Assentimento do orador.) Ver. Clóvis Brum, eu, realmente, havia pedido
um aparte para dizer que eu também era presidente de uma associação de
moradores na época do tíquete de leite. Eu nunca distribuí um tíquete de leite,
por uma questão de princípio. Mas também não impedi que a minha gente o
distribuísse, os meus companheiros da associação. Agora, o PT sempre apoiou
lutas que, efetivamente, tragam uma condição de vida digna para a população.
Nós nunca fomos contra a distribuição do tíquete de leite, era uma necessidade
daquela gente, e nós participamos disso. Eu, por uma questão de princípio, nunca
distribuí um tíquete de leite, apesar de ser o Presidente da Associação dos
Moradores da Estrada dos Alpes, naquela época.
O SR. CLÓVIS BRUM: Eu acolho o aparte de V.
Exª e digo que nunca distribuí o tíquete de leite, mas achava que a
distribuição do tíquete de leite ajudava, sim, a população pobre, a população
sofrida, esta população que só é usada durante os discursos eleitorais. E,
hoje, precisamos terminar com este discurso eleitoral e partir para a prática.
Ajudar um pouquinho, mas vai ajudar, pode ser que daqui a alguns anos não
precise mais disso. Então, estaremos felizes. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o PT, às vezes, surpreende a gente,
porque a teoria e a prática estão quase sempre divorciadas. E a gente nota isto
quando, de repente, nós notamos que as invasões em determinadas áreas, por
exemplo, se dão em áreas do Estado. Nós não vemos invasões nas áreas do
Município, as invasões se dão na área do Estado. De repente, o PT, que pregava
a necessidade de melhorar os salários dos trabalhadores, de dar melhores
condições de trabalho para os assalariados, veta o Projeto de Lei, que eu tenho
certeza de que, se o Partido dos Trabalhadores estivesse na oposição, seria o
primeiro a sair às ruas da Cidade para tentar fazer com que determinados
setores fizessem pressão sobre esta Câmara para que este Projeto pudesse ser
aprovado, mas como agora o PT está administrando a Cidade e como, sabiamente, o
Ver. João Dib apresentou duas Emendas a este Projeto de Lei, e esta Câmara
aprovou, que obrigam a Câmara Municipal de Porto Alegre a também dar o café da
manhã para os seus trabalhadores, e que o Executivo Municipal também dê o
lanche matinal para os seus trabalhadores, por causa destas duas Emendas, o Sr.
Prefeito Municipal resolveu vetar. É claro que se não fosse por estes detalhes,
a obrigatoriedade de a Câmara e o Município fornecerem também o café da manhã,
o PT, hoje, não estaria aqui sendo obrigado a votar contra os trabalhadores,
porque o Sr. Prefeito Municipal não teria vetado este Projeto de Lei. Este
Projeto de Lei não teria sido tachado de inconstitucional.
Eu não concordo com algumas
colocações feitas pelo Ver. Artur Zanella, quando veio a esta tribuna,
afirmando que o Parecer dado no Tribunal do Rio de Janeiro dizendo que o café
da manhã é dado fora do expediente de trabalho, e por isto mesmo não deve fazer
parte dos ganhos do trabalhador, e foi aprovado lá exatamente por causa disso,
e as razões do Veto, as argumentações contrárias foram derrubadas exatamente em
cima deste voto dado pelo Tribunal, eu acredito que existe algum erro, porque,
Ver. Artur Zanella, para alguns tribunais o trajeto do trabalhador, da sua casa
até o local de trabalho, quando este trabalhador é transportado pela empresa,
até mesmo este trajeto é contado como horário de trabalho do trabalhador.
Então, por isso mesmo, o café da manhã que esse trabalhador iria receber
momentos antes de começar a sua jornada de trabalho, este café da manhã poderia
ser interpretado por esta corrente como fazendo parte da jornada de trabalho.
Mas, apesar de nós acreditarmos
que a argumentação do Executivo Municipal, com relação a este art. 22 da
Constituição, ela é correta, até porque a Administração de Porto Alegre está a
cargo do PT, que é partido dos trabalhadores, até porque nós sabemos que existe
uma necessidade muito grande de esses trabalhadores começarem receber melhores
condições de trabalho, nós vamos votar pela derrubada do Veto para que o
Projeto de Lei de V. Exª, Ver. Artur Zanella, possa começar a ter eficácia, e
para que também os funcionários da Câmara Municipal, e aí eu acho que o Ver.
Antonio Hohlfeldt, que é o Presidente da Casa, já está começando os
preparativos para poder fornecer para os funcionários da Câmara também o café
da manhã. E o Sr. Prefeito Municipal também já deve estar preocupado em
oferecer para os municipários o café da manhã. Eu acredito que só essas razões
de os trabalhadores poderem ter melhores condições para iniciar a sua jornada
já é argumento mais do que suficiente para que a gente vote contrário ao Veto
aposto pelo Sr. Prefeito.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Primeiro, para dizer
que a Prefeitura já fornece café a uma grande parte dos seus
funcionários. Depois dizer, Ver. Luiz Braz, que por injunções do nosso
Regimento Interno, há pouco tempo eu apresentei um Projeto sobre determinado
assunto, terminou sendo aprovado o Substitutivo; enfim, aparece o meu nome em um
projeto e foi aprovado outro. Neste caso, aqui, nós apresentamos, quase na
mesma época, eu e o Ver. Gert Schinke, quase o mesmo projeto, porque eram
semelhantes. O meu, por ter sido apresentado antes, foi aprovado, mas o do Ver.
Gert Schinke, um projeto semelhante, por uma dessas coisas de Regimento Interno
não foi, foi aprovado o meu. O dele era mais ou menos igual a este, e quero
elogiar o Ver. Gert por aquela iniciativa que tomou, na época, junto comigo.
O SR. LUIZ BRAZ: É claro que a gente não poderia esperar dos Vereadores que compõem a
bancada petista, nesta Casa, atitude diferente a não ser aquela de apoio aos
trabalhadores, de derrubar o Veto, e tenho certeza de que os Vereadores desta
Casa, mesmo os da Bancada do PT, não podem estar favoráveis ao Veto colocado
pelo Sr. Prefeito. No passado, muitas vezes, o que o trabalhador tinha de
alimentação era o café da manhã, e era comum ouvirmos trabalhadores dizendo:
“olha, estou apenas com o meu café da manhã”, e era suficiente para que eles
pudessem passar boa parte do dia desempenhando suas funções. Acontece que com
as condições precárias do trabalhador, com o salário mínimo sendo recebido por
praticamente 80% dos nossos trabalhadores, terminou com a condição de esse
trabalhador se alimentar no início do trabalho, e nem a sua família. Então, é
mais do que justo que este Projeto de Lei, apesar do seu vício de
inconstitucionalidade, seja aprovado por esta Casa. Ir para os tribunais, fazer
parte de uma grande discussão na sociedade para que possamos ter essa lei
vigorando aqui em Porto Alegre é outra coisa, como já existe em outros
municípios do Rio Grande do Sul. Somos favoráveis, vamos votar pela derrubada
do Veto esperando que o Sr. Prefeito, que é do PT, também acate a decisão desta
Casa, não recorra à Justiça e dê para os trabalhadores do Município e desta
Casa este benefício, que, tenho certeza, vai fazer com que o nosso Município
possa ter gente trabalhando bem melhor. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Dilamar Machado.
O SR. DILAMAR
MACHADO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, na análise deste
Projeto, antes de mais nada e depois de algumas manifestações nesta Casa,
cheguei à conclusão de que mais do que estar em jogo uma decisão legislativa
é preciso analisarmos, também, neste momento, o comportamento social da
legislação e do legislador brasileiro. O escritor alemão Herman Hesse, num de
seus livros mais interessantes chamado “Lobo da Estepe” cria, através de seu
personagem central, um amplo estudo do comportamento humano até chegar à figura
do burguês. E tudo que eu li até hoje sobre a implantação do estado pessoal do
burguês, do homem aburguesado, me parece o mais profundo e o mais claro, porque
Herman Hesse se baseia, inclusive, na filosofia freudiana da burguesia. Ele
cria, Ver. Omar Ferri, três situações: o cidadão que diante da sua sociedade é
dogmático, ele é um cristão, ele é um católico, ele é um espiritualista, ele é
um homem preso a determinadas circunstâncias da vida, é uma espécie de determinismo
e que para ele está tudo certo, é aquilo mesmo, nada pode ser mudado, ele tem
medo das mudanças. Eu diria, de forma simplificada, que isto é a extrema
direita ou é a direita, é o conservador, é o que tem medo de mudar alguma
coisa; e, no outro extremo, Herman coloca o anarquista, o revolucionário,
aquele que quer mudar, eu diria que ali está o proletariado, ali está a parcela
mais sofrida da sociedade de qualquer país desenvolvido ou não, e no meio fica
o burguês. O que é o burguês? É o que tem medo de Deus, mas vai à casa de
umbanda; é o que não quer mudar, mas, de repente, aceita determinadas mudanças.
Enfim, o burguês é aquele que está em cima do muro e, até hoje, eu tinha o Ver.
Artur Zanella como um legislador burguês, mas vejo, por este Projeto, que o
companheiro se proletarizou. Eu tinha o companheiro Olívio como um proletário e
vejo, pelo Veto, que o companheiro se aburguesou.
Indiscutivelmente, mais do que
estudar o Projeto, nós precisamos nesta tarde estudar o contexto da sociedade
brasileira. Indiscutivelmente – um anarquista de direita, se auto-intitula o
Ver. Artur Zanella – a medicina já comprovou...
O Sr. Omar Ferri: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Se o Ver. Artur
Zanella é um anarquista de direita, eu sou o lado contrário do Ver. Artur
Zanella, eu sou o fascista de esquerda.
O SR. DILAMAR
MACHADO: Indiscutivelmente, Ver. Omar Ferri, a sociedade
brasileira, através de vários compêndios de medicina, aquela medicina social
que vai até o povo, já comprovou que a fome prejudica o aprendizado das
crianças nas escolas. A criança, com fome, não consegue adquirir os neurônios
necessários para acompanhar os demais alunos bem alimentados. Daí, a
implantação da merenda escolar. Também é indiscutível que o trabalhador com
fome não vai render o que poderia.
Então, diria que o Projeto do
Ver. Zanella consubstancia um estado social neste País. Como é que as empresas
vão dar café com leite, pão e manteiga? Aliás, o Projeto já foi escoimado de
alguns vícios de redação inicial através de emendas. Hoje, é claro que as
empresas devem oferecer aos seus trabalhadores uma xícara de café, pão e
manteiga. Ora, a nossa sociedade é hipócrita, pois no saco da lixeira da
burguesia vamos encontrar o resto de alimento que talvez servisse para matar a
fome de milhares de pessoas desta Cidade. Aí está a hipocrisia da nossa
sociedade. O rico joga fora, permanentemente, na lata do lixo aquilo que sobra
em sua mesa, e esta é a distância que há entre o empresário e o trabalhador.
Não há dúvida de que o trabalhador brasileiro é mal pago, mas não é culpa desta
Câmara, do Olívio, do Collares e nem mesmo do Collor, embora ele tenha
prometido em sua campanha que iria triplicar o salário mínimo no que assumisse,
e o salário mínimo cada vez é mais miserável e mais fantasia neste País. O que
pode fazer a Câmara Municipal de Porto Alegre? Pode, em conjunto, derrubar este
Veto. E até me parece que o Veto tem uma razão mais de ordem legal do que moral
e social. Não tenho dúvida de que o Sr. Olívio Dutra, por sua essência humana,
pela sua luta como trabalhador, ele é a favor desta lei. A dúvida está na
constitucionalidade. O Ver. Zanella levantou, e tem razão: no Rio de Janeiro o
Ver. Aarão Steinbruck apresentou projeto idêntico, foi aprovado pela Câmara,
a Justiça acabou corroborando a decisão do Legislativo do Rio de Janeiro e,
hoje, é lei no Rio de Janeiro. Lá, hoje, as empresas são obrigadas a fornecer
café, pão e manteiga a seus profissionais. E eu não tenho notícia, Ver.
Zanella, de que nenhuma empresa tenha quebrado por causa disso.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu gostaria de ler, se V. Exª me permite, uma
entrevista do Sr. Alberto D’Ávila, que diz o seguinte: “Os empresários alegam
que a lei é inconstitucional por considerá-la matéria trabalhista, portanto, de
responsabilidade da União”. No documento elaborado pela Procuradoria-Geral do
Município do Rio de Janeiro, a Prefeitura argumenta que a lei atinge o
funcionário fora do seu horário de trabalho, afastando a possibilidade de ser
considerada matéria trabalhista. E o Prefeito Marcelo Alencar, evidentemente, o
senhor sabe melhor do que eu, ele é uma das grandes lides do seu Partido, diz o
seguinte: que só insensíveis podem classificar tal iniciativa de demagogia. O
Prefeito respaldou a decisão com o aumento de produtividade, assiduidade e
pontualidade, constatadas em empresas paulistas que adotaram, por iniciativa
própria, esta prática. Vereador, eu tenho nome de dois grandes líderes do PDT
que no Rio de Janeiro apoiaram essa iniciativa e estão segurando na Justiça.
O SR. DILAMAR
MACHADO: Eu não tenho dúvidas, Vereador. E, inclusive, diria
mais o seguinte: a implantação desta lei vai criar nas próprias empresas um
outro estado de espírito. E, normalmente, o que acontece numa grande loja, num
grande magazine ou num supermercado, enfim, em qualquer uma fábrica? Os
operários chegando, sendo despejados do transporte coletivo, entrando direto no
seu ambiente de trabalho, na maioria das vezes, sabidamente, mal alimentados ou
sem nenhum tipo de alimento. Com esta lei, Ver. Zanella, nós teremos a
criação de um ambiente pré-expediente de trabalho, em que os trabalhadores
estarão até, dependendo da cabeça do patrão ou das suas chefias, em contato com
a própria direção da empresa naquele momento da refeição matinal, para, depois,
irem para o trabalho. Eu não tenho dúvida de que a lei é boa, que vai prestar
grandes benefícios à própria Cidade de Porto Alegre e que, talvez, venha a ser o exemplo para o resto do País. O Ver.
Ervino e o Ver. Luiz Machado, que são produtores de pão, já ficam aí com a
possibilidade de ampliar a sua profissão.
A única dúvida que me resta, Ver.
Zanella, ao encerrar a minha manifestação de apoio ao Projeto de V. Exª, é que
há uma penalidade prevista para a empresa que não servir café com leite, pão e
manteiga aos seus trabalhadores num período de seis meses: cassação do alvará.
E eu pergunto a V. Exª: se o Prefeito Olívio Dutra, que vetou a Lei, não servir
café, pão e manteiga aos seus trabalhadores? Cassar o alvará da Prefeitura não
é possível. Vereador, eu tenho comigo, como advogado, definitivamente,
que este decreto da ditadura está já devidamente caduco e não faz mais parte do
mundo jurídico. Já defendi esta tese quando aqui se examinava a questão do Ver.
Brum. O mesmo caso é com a Câmara Municipal, vamos cassar o alvará do Ver.
Antonio Hohlfeldt? Então, esses detalhes precisam ser cuidados também, porque,
na realidade, para a empresa particular e privada, a penalidade está clara no
Projeto; para o Poder Público, não. Espero que o bom senso prevaleça e que o
Prefeito Olívio Dutra volte a servir café, pão e manteiga, ou passe a servir
aos seus trabalhadores. E mais, que determine à sua Secretária de Educação que
cumpra a Lei Orgânica do Município que manda dar, por acordo desta Casa, tempo
integral de aulas no Centro Integrado de Educação Municipal, servindo café,
almoço e o lanche da tarde aos estudantes, o que não vem sendo feito. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Heriberto Back.
O SR. HERIBERTO BACK:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em particular,
meu amigo Dilamar Machado, eu diria que nem o Prefeito Olívio Dutra virou
burguês e nem o Ver. Zanella virou proletário anarquista. O que acontece é que
o Prefeito Olívio Dutra segue sendo um proletário assumindo a função de
Prefeito dentro de um poder burguês. Isso traz, no seu bojo, uma série de
contradições. O Ver. Zanella segue sendo um defensor dos interesses burgueses,
mas, na oposição, eu diria que ele agita algumas bandeiras anarquistas, o que é
diferente. Já que tanto se misturou aqui, tíquete de leite, café da manhã, com
ocupações, para retificar o que disse o Ver. Zanella, é simples: para o
Governador Collares e o Prefeito Olívio Dutra resolverem o problema daquelas
moradias, declarem de utilidade pública e desapropriem. Agora, sabem o que mais
fez o Ver. Zanella na época em que ele fazia desapropriações? Bem me lembrava o
Ver. José Valdir era desapropriar uma área como a da Nova Brasília, que os
moradores tinham posse legal daquilo há mais de 20 anos, quer dizer, na
realidade não beneficiou os moradores, beneficiou os proprietários daqueles 20
hectares de terra. Assim como da Nova Gleba.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Heriberto Back, antes de ceder o aparte ao Ver. Artur Zanella, eu
gostaria de lembrar a V. Exª que estamos discutindo o Processo nº 1921 e não
processos de desapropriação de áreas.
O Sr. Artur Zanella: Ver. Heriberto Back, labora em equívoco o Ver. José Valdir, e espero que
não por má fé, porque a Vila Nova Brasília é de propriedade do Município. A
área que foi declarada de utilidade pública é dois ou três terrenos do Sr.
Carlos Stechmann, que se recusou a vender para a Prefeitura e que tinha sido
vendida há quarenta anos, mais ou menos, pelo Dr. Meneghetti, para lá ser
instalada uma fábrica e colchões para dar emprego àquelas pessoas. Como o Dr.
Carlos não tomou posse, não assumiu, a Prefeitura declarou de utilidade pública
e pagou por aquela desapropriação, e eu arrumei um inimigo. Fale com o Ver.
Dilamar Machado, que deve saber disso. A Vila Nova Brasília é do Município e
nunca foi de propriedade particular.
O SR. HERIBERTO BACK:
Eu não estava, efetivamente, discutindo a questão
das desapropriações. Agora nem vou contestar, porque o Presidente já me chamou
a atenção, até porque também não é exclusividade do Ver. Zanella. Em tantos
outros e até num recente projeto que para cá veio está prevista a
desapropriação de áreas passíveis de usucapião, e eu contestei quando cá veio a
discussão do fundo de desenvolvimento urbano. Mas, eu estava me referindo e en
passant cheguei a essa situação. Falou-se aqui do café com leite, falou-se
do tíquete, agora, eu disse ao Ver. Clóvis Brum, antes, que como Presidente da
Associação dos Moradores da Estrada dos Alpes nunca distribuí um tíquete de
leite. Agora, nunca impedi, e incentivei que meus companheiros o fizessem,
porque é uma população que precisava do tíquete, como também precisa do café da
manhã. E eu, particularmente – é uma questão aberta pelo que sei, pelo menos na
última discussão da Bancada quando eu lá estava –, vou votar contra o Veto do
Prefeito Olívio Dutra. Eu não vejo por que esse espanto todo. Vou votar contra,
dentro da mesma argumentação que usei aqui desta tribuna quando votei a favor
do Projeto: não vai resolver o problema, tem vício de inconstitucionalidade, é
verdade, mas será uma bandeira de luta a mais que os trabalhadores terão na
conquista dos seus direitos, dentro dessa mesma argumentação. Sei, também, que
o Prefeito Olívio Dutra, que não se tornou um burguês, mas é um proletário
dentro de uma função difícil, dentro de um estado burguês, sei que ele não
ficará nada triste se este Veto for derrubado. Quero dizer que o Ver. José
Valdir fazia a distribuição do tíquete de leite na sua Associação – e não tenho
procuração do Vereador para defendê-lo – na minha Associação nós fazíamos a
distribuição do tíquete de leite, e creio que é favorável à distribuição do
café com leite aquele que pode, também, ser favorável a uma ocupação, porque
essa sim, vai do âmago da estrutura do poder burguês.
Fiquei muito triste quando a Casa
deu uma risada quando o Ver. Lauro Hagemann disse que o Ver. José Valdir tinha
ido visitar a ocupação, o que não significa que ele apóie a ocupação. Quero
dizer aos Vereadores e à Cidade de Porto Alegre que, quando houver uma ocupação
– digo isso em meu nome e, tenho certeza, em nome do Ver. José Valdir –, ou nós
a organizamos, porque já organizei várias ocupações como na Vila do Respeito, e
o Ver. Dib sabe disso, organizei a ocupação no Beco do Adelar, ou dela tínhamos
conhecimento ou tomamos conhecimento posterior, não importa, sempre estaremos
ao lado dos ocupantes, porque isso é atingir o âmago do poder burguês, atingir
a propriedade mal distribuída. Então, não há necessidade de rir quando alguém
disser que o Back não estava lá ou que o Ver. José Valdir não estava lá.
Estando presentes ou não, sempre estaremos ao lado das ocupações.
Num outro dia, quando estive na
Casa Civil, junto com o Dr. Mathias Neigelstein, sobre a questão dos terrenos
do IPE, ele dizia: “Está certo, cachorro ovelheiro só matando, tem que
matar todas as ovelhas!” Pois matem todas as ovelhas, sempre estaremos ao lado
das ocupações. Quem for a favor dos tíquetes, do café com leite, e for contra
as ocupações quero que, ao menos, seja a favor da prisão do nosso grande amigo,
Ver. Dib, mas que infelizmente meteu a mão no dinheiro do IPE, nosso amigo Oly
Facchin, Diretor-Financeiro. É uma quantia vultosa, cerca de dois bilhões,
hoje, aquilo que foi desviado do IPE naquele conjunto que está sendo ocupado
pelos trabalhadores. Isso dá para dar casa e café da manhã para muita gente, e
nada foi feito até hoje. Participei de uma Comissão Parlamentar de Inquérito,
como assessor técnico, e fizemos esse levantamento que está na gaveta, também,
porque a Assembléia Legislativa não jogou peso no Poder Judiciário para que
levasse isso adiante. Nós estamos exigindo do Governador Collares, e já
exigimos do Presidente do IPE, para que tome iniciativa; dois bilhões de
cruzeiros desviados.
Por isso nós apoiamos aquela
ocupação e tantas outras ocupações. Quando um menino que rouba uma televisão à
noite – como eu dizia lá na Assembléia – e devolve no dia seguinte, e eu pedi
àquele menino: fale a verdade ao Juiz, eu vou levar o Presidente da Associação
para depor a teu favor porque tu és um menino bom, vou levar a irmã para depor
a teu favor porque tu és um menino que colabora no Centro Comunitário, vou
levar a diretora da creche para depor a teu favor porque não quero que mintas
ao Juiz, e aí tu te acostumas a te defender com a mentira. Pedi que ele falasse
a verdade. Pois o menino falou a verdade: roubou uma televisão de noite e
devolveu no dia seguinte. E foi condenado a três anos de prisão, não sei
quantos mil de multa e mais as custas processuais. Isso porque ele falou a
verdade, mas os Diretores do IPE roubaram dois milhões de cruzeiros e moram em
mansões, e ninguém fez nada contra eles.
Agora, os trabalhadores ocuparam
aquele conjunto, aí eles são invasores, aí eles dão risada porque o Ver. Back
apóia e o Ver. José Valdir apóia. Não, nós apoiamos sempre, e eu acho que só
pode apoiar a distribuição do tíquete do leite, só pode aprovar o café da
manhã, são medidas paliativas sim, que também se posiciona para atingir o poder
burguês no seu âmago, porque é a propriedade mal distribuída, mal organizada,
propriedade para 10%, quando temos multidões famintas, multidões sem teto e sem
terra.
É nesse sentido que eu quero me
posicionar e dizer novamente, alto e bom som, para que ninguém mais ria nesta
Casa quando alguém insinuar que o Ver. José Valdir ou o Back ou um outro
Vereador do PT está participando de uma ocupação. Eu quero dizer claramente o
seguinte: ou eu organizei, ou tinha conhecimento ou então fiquei sabendo
depois, mas vou estar sempre a favor, vou estar sempre ao lado deles. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clovis Ilgenfritz.
O SR. CLOVIS
ILGENFRITZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, companheiros que
nos assistem, hoje, aqui, representantes sindicais, está aí o Presidente do
Sindicato do Vestuário, companheiro Telmo Höhn, e o Secretário atual do
Sindicato dos Comerciários. São dois Sindicatos importantes, dois sindicalistas
que assistem a nossa discussão. Eu, quando assumi a tribuna, gostaria de falar
também para o Ver. Luiz Braz que está aqui. Acho que hoje a gente tem que fazer
um grande esforço para manter o mínimo de respeito mútuo, porque o que passa
por dentro de mim na hora que vejo esse tipo de discussão aqui é algo que me
deixa indignado. Realmente, fico com nojo, queria que constasse isso nos anais.
Há poucos minutos, por maioria, votamos contra um Veto do Prefeito que queria
salvaguardar a condição de a Prefeitura fazer as coisas com celeridade, com
dinamismo, mas foi dado um voto de desconfiança para o Prefeito, aqui: “Não! A
cada esquina que fizerem um estacionamento azul, agora, vai ter que pedir
licença para os nobres Vereadores”. Vão ficar discutindo três, quatro meses,
discutindo aqui o que a Prefeitura pode ou não fazer e, enquanto isso, o povo
fica sem o serviço.
Agora, está havendo um desfile de
hipocrisia, um desfile de cretinice aqui neste microfone. Eu não sou o dono da
verdade, não sou melhor que os outros, mas me sinto autorizado a dizer que
estes que estão aqui defendendo o café da manhã estão falando que o Prefeito
Olívio vetou, que o PT é contra, não estão autorizados a fazer isso. A história
não está mostrando isso e nunca mostrou. Assim como o Ver. Clóvis Brum veio
aqui dizer que tinha que defender o Plano Diretor, quando ele é um dos maiores
culpados pelo prejuízo que o Plano Diretor tem sofrido na história, nesta Casa,
há mais tempo, todos sabem disso. Então eu acho, companheiros Vereadores, que
realmente é uma medida paliativa, realmente a desgraça é tanta que jamais nós
do PT poderíamos votar contra o café da manhã das empresas privadas de Porto
Alegre, só quero ver isso, e do serviço público. Aqui, os marajás, os
pseudo-marajás, os assessores, todos vão ter café, sair de casa livres, lépidos
e faceiros, e vão para lá, na Câmara tem café para os pobres. A inconstitucionalidade é flagrante, e se o
Prefeito Olívio Dutra, por acaso, chegasse à conclusão de não ver isso, como a
Câmara não vê, por que aqui não basta a Auditoria dizer que é inconstitucional,
vai para a Comissão de Justiça, ela passa por cima da Constituição, passa. É
uma decisão política, digo isso e afirmo, não precisa ficar fazendo cena, digo
e afirmo quantos processos a Auditoria diz serem inconstitucionais, vai para a
Comissão de Justiça, a Comissão se reúne e diz que não é inconstitucional, por
quê? Porque depois vai para o Prefeito, e ele é última instância e ele é
obrigado a dizer que é inconstitucional, porque se ele não disser, qualquer
Vereador aqui, qualquer um de nós no dia seguinte pode pedir um impeachment
do Prefeito por não cumprir a Constituição. É outra cretinice, outra
hipocrisia. Isso está vingando e pairando aqui sobre todos os discursos.
Nós não podemos mais ficar
iludindo, vamos dizer logo para o povo que nós queremos que ele continue a ser
escravo. Quem defende o liberalismo, o capitalismo, a “modernidade do Collor”,
que estão aqui todos os dias defendendo, que vão defender agora também, por que
as empresas privadas, que são tão boas, não dão o café sem projeto nenhum? O
DMLU e outros organismos da Prefeitura, para aqueles que realmente necessitam,
eles dão o café, sim, dão refeições. Por que as empresas não fazem isso? Por
que as empresas, que são a fonte de inspiração de todas as questões ideológicas
de vários Vereadores, por que elas não dão o café sem projeto? Por que o Ver.
Zanella, o Ver. Luiz Braz e outros Vereadores não vão visitar os seus
companheiros empresários e dizer que eles têm que dar um cafezinho para os
empregados, café com pão, manteiga, uma mortadela, uma fruta, um melãozinho?
Quer dizer, é uma vergonha, eu fico com nojo.
Vamos fazer justiça num País como
o nosso, quando se expropria cidadania, se expropria o bolso do
trabalhador, está-se expropriando a dignidade humana, e eles vêm aqui dizer que
o café da manhã vai mudar a vida das pessoas? Nós devemos fazer uma luta, aqui,
para que haja reforma agrária, para que haja distribuição do lucro, porque,
como disse o Ver. Zanella, se não me engano foi ele quem defendeu, aumentou a
produtividade em não sei quanto por cento porque deram café. Aumentou a
produtividade, e ele esqueceu de dizer que aumentou o lucro também, e
que as pessoas continuaram ganhando mal, que as pessoas continuaram escravas,
continuaram vítimas da recessão, do desemprego, da falta de qualquer condição à
saúde. Está aí a Previdência, estão roubando, e quantas vezes já disseram que
estão roubando e nunca fizeram nada? Quando é que eu vou respeitar um discurso
desse tipo? Quando os trabalhadores assumirem a sua consciência política e não
tiver essa mídia eletrônica que está aí, das redes de televisão, rádio, jornal,
que “fazem as cabeças” das pessoas e lançam candidatos à Presidência da
República apenas pela mídia. A mídia é que faz os candidatos e não a sua ação
prática na luta. Onde está o mínimo da nossa dignidade?
O Sr. Luiz Braz: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, eu fazia
parte da Comissão de Saúde no ano passado, e foi na Comissão de Saúde que o
Ver. Gert Schinke pedia para que esse Projeto pudesse voltar a ser discutido
aqui nesta Casa. E o Ver. Gert Schinke
é um dos maiores batalhadores para que essa medida possa ter vivência. E nós,
que fomos Relator no ano passado, nós fomos favoráveis nessa época. Agora, eu
não sei porque uma luta que é do seu partido, não é uma luta particular minha,
e V. Exª, hoje, porque é da situação, está se colocando contrário a uma luta
que no passado foi do PT.
O SR. CLOVIS
ILGENFRITZ: Eu vou lhe fazer uma pergunta e queria que V.
Exª dissesse “sim” ou “não” para ficar
gravado aqui. Esse Projeto é constitucional ou inconstitucional?
O Sr. Luiz Braz: Para mim é inconstitucional.
O SR. CLOVIS
ILGENFRITZ: Está gravado. Quer dizer que de hoje em diante vale
esse tipo de coisa. Agora eu queria dizer aos Srs. Vereadores que de fato nós,
embora não acreditemos em absoluto nesse tipo de solução para a classe
trabalhadora, nós que estivemos durante muitos anos na liderança sindical,
trabalhando lado a lado com os sindicatos das mais variadas categorias, nós que
ajudamos, com outros companheiros, a criar a Central Sindical, a CUT, nós que
estamos tentando fazer com que a classe trabalhadora assuma o seu destino, para
que ela tenha consciência e ela mesma faça. Porque eu me sinto mal em chegar
aqui e ouvir o que eu tenho ouvido de alguns Vereadores, que agora não vão
contestar porque vão querer o nosso voto mas que, na verdade, são a favor do lucro e de todas aquelas
questões liberais que são colocadas toda vez que se discute, aqui nesta Câmara.
Hoje, nós temos um exemplo, o salário mínimo dos trabalhadores passou de 17
para 20 mil, só que não vão incorporar nos salários. É uma manobra desta mesma
burguesia, desta mesma classe dominante. É uma manobra, não incorpora no salário.
É 17, passa para 20 mil, dá como abono, vamos fazer por aí, porque eles estão
morrendo, e nós não podemos deixar morrer. Mas temos que deixar perto da cova,
precisando de nós, pedindo socorro, sendo praticamente subespécie. É isso que
eu tenho visto neste País. Eu acho que, na nossa Câmara, tem gente muito boa, a
maioria dos companheiros, aqui, Vereadores, teriam condições de assumir uma
bandeira mais digna. Eu acho que hoje se fez, aqui, discurso falso, de quem não
defende estas posições, mesmo.
O Sr. Artur Zanella: Como V. Exª falou que não responderia para alguns Vereadores, porque
queria o seu voto, eu gostaria de saber se V. Exª está se referindo a mim, como
autor do Projeto.
O SR. CLOVIS
ILGENFRITZ: Não, estou me referindo a vários Vereadores. Eu só
queria dizer que, de fato, nós, conversando com o Executivo, conversando com os
membros da Bancada, vamos votar, eu pessoalmente vou votar com a Bancada pela
derrubada do Veto. Mas eu queria deixar muito claro que é por uma razão
fundamental, uma conjuntura que hoje domina o País, mas que ninguém venha
pensar que nós estamos votando pelo mesmo argumento hipócrita e cretino que foi
colocado aqui. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Gert Schinke.
O SR. GERT
SCHINKE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, inicialmente, eu queria esclarecer aos
companheiros aqui presentes, que nos honram coma sua visita, representantes de
organizações sindicais e os demais Vereadores que, na época da discussão deste
Projeto, ou não prestaram atenção para o que foi dito aqui, ou não estavam no
Plenário, por uma razão ou outra, saibam de alguns fatos, para que se
reconstitua, do meu ponto de vista, uma verdade, e eu quero contribuir para
esclarecer. Em primeiro lugar, eu quero dizer que, realmente, como já foi
colocado pelo Ver. Artur Zanella, eu fui o responsável de trazer a Plenário
este Projeto, e a prova está aqui dentro do Processo, do Projeto, onde eu
solicitava ao Ver. Giovani Gregol, na época Presidente da Comissão que trouxesse
de volta para o seio da Comissão este Processo, na medida em que acabava de
receber o segundo Parecer contrário, e, portanto, iria diretamente para o
arquivo, conforme reza o nosso Regimento Interno. E, houve por bem ressuscitar
esse Projeto, porque a mim, pelo menos, Ver. Clovis, meu ilustre colega, eu
penso que não paira nenhuma suspeita de defender oportunisticamente os
interesses dos trabalhadores. Da minha parte estou com a consciência muito
tranqüila, mais tranqüila, ainda, porque independente do autor do Projeto, que
é o Ver. Artur Zanella, que realmente não tem na sua trajetória a marca
principal de defender a luta dos trabalhadores, foi o que chegou antes, para
protocolar este Projeto da Casa. Porque este Projeto eu estava interessado em
apresentar, como fiz de fato, através de um Substitutivo, mas eu não tenho
preconceito nenhum que um Vereador de outra Bancada, e tenho me pautado aqui
assim, nesta Câmara, seja um Projeto de autoria de um Vereador da Bancada do
PDT, que aqui às vezes vários Vereadores se pronunciam raivosamente contra o PT
e contra o Executivo Municipal, contra a nossa Administração Popular, mas
projetos que eu apoio por entender que é mais importante o mérito deles, porque
eu me coloco na linha ideológica dos interesses que eles estão apoiando, e não
me atenho à questão da autoria do Projeto, como esse também, do Ver. Artur
Zanella.
Eu quero dizer aqui muito
claramente que, independente da autoria ser do Ver. Artur Zanella, eu, como
ecologista que sou, além de defender as questões ambientais, que é a minha
marca aqui nesta Casa, vou defender, acima de tudo, e não vou abrir mão de um
milímetro dos interesses dos trabalhadores. É por isso que aqui está para quem
quiser ver, acabei ressuscitando esse Projeto para que hoje se pudesse
transformar numa lei, através de um pedido que eu fiz, na época consta que era
regimental, aliás, que qualquer Vereador da Casa poderia fazer; o Ver. Dilamar
Machado, Ver. Wilton Araújo, Ver. Cyro Martini, Ver João Dib, Ver. Luiz Braz,
que aqui está defendendo ardorosamente o Projeto, poderia tê-lo feito, mas eu
fiz, achando que esse Projeto não poderia entrar na gaveta. E por que é que eu
acho que ele não deve ir para a gaveta, Ver. Clovis Ilgenfritz e Ver. José
Valdir? Eu falo para vocês dois, especificamente, porque são os únicos aqui,
junto comigo, presentes neste Plenário, da nossa Bancada, porque acho,
companheiros, desculpe-me Ver. João Motta, que eu não tinha visto, desculpe o
lapso, não foi premeditado. Eu vou votar contra o Veto do Prefeito Municipal,
porque eu entendo que ele está correto na sua argüição da
inconstitucionalidade. Nós devemos passar esse abacaxi, a discussão da
inconstitucionalidade para os empresários e à Justiça, porque nós temos que nos
ater ao mérito do Projeto: votar em defesa dos interesses da classe
trabalhadora, passar por cima de certas interpretações, que eu entendo, muitas
vezes, como as mais esdrúxulas possíveis, que vão defender, em última análise,
os interesses dos empresários, que está cheio aqui nesta Casa.
Sob o rótulo de inconstitucional
ou não, sempre se defende um interesse. E eu prefiro passar por cima de uma
leitura de alguns ilustres juristas que rezam por “a” mais “b” que isto aqui é
uma afronta à Constituição brasileira, mas prefiro dormir com a consciência tranqüila
e defender os interesses dos trabalhadores. Não interessa se é constitucional
ou não; ora, que se mude a Constituição, que as organizações sindicais, que nos
apóiam na aprovação desse Projeto, que não são poucas e não são pequenas, está
aqui o Sindicato tos Trabalhadores Comerciários, está aqui um abaixo-assinado
do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Gráficas em Porto Alegre, e que
foi colocado para todos os Vereadores desta Casa – está a rubrica de todos os
Vereadores acusando o recebimento – o Ver. Edi Morelli me acena positivamente –
através de suas Lideranças, que percorreram todos os gabinetes da Casa, e
obtiveram o apoio, e isso não é pouco, temos que ver as dificuldades sofridas
pelas organizações sindicais em fazer este trabalho dentro do seu horário de
expediente, e poder nos encontrar aqui. E por isso prezo muito um documento
destes, que vem referendar, por uma entidade sindical, e passou em todas as
Lideranças.
O mérito do Projeto é
indiscutível, quem é que pode dizer que não é importante para o trabalhador
estar bem alimentado no início da sua jornada de trabalho? Muito mais do que
uma questão de lucratividade ou produtividade das empresas deveria ser encarada
sob o ponto da dignidade humana, que é desrespeitada por causa do arrocho
salarial. Quero dizer, e que fique bem registrado, quando se fala em migalhas,
é verdade, mas o que é o vale-transporte senão uma migalha arrancada da
burguesia? O que é o vale-refeição senão uma migalha arrancada das mãos da
burguesia na relação do capital e trabalho? O que é a passagem de ônibus senão
uma migalha dada aos trabalhadores? O que são as construções do BNH senão uma
migalha arrancada das mãos da burguesia e cujo teto ainda cai na cabeça dos
trabalhadores? Como se pode aqui falar que isto aqui é mais uma migalha, isso
que eu chamo de hipocrisia, porque tudo que conseguimos arrancar das mãos da
burguesia se poderia dizer que são migalhas, e são migalhas, sim, porque a
burguesia é que concentra a riqueza. Mas estou consciente de que se não conseguirmos
arrancar mais migalhas, não vai restar nada para o nosso povo, que vai
continuar mendigando na sarjeta.
Por isso acho que os Vereadores
do PT devem acompanhar, eu encaminhei naquela reunião de Bancada que decidiu
por derrubar este Veto, esta concepção, esta visão sobre este Projeto. Nós
temos que derrubar este Veto para botar na mão dos empresários, discutir a
inconstitucionalidade, e não na nossa mão, arcar com esse ônus, Ver. Clovis
Ilgenfritz, de nos comportarmos contrários aos interesses legítimos da classe
trabalhadora.
O SR. PRESIDENTE
(Airto Ferronato): O Ver. Edi Morelli se inscreve e cede seu tempo ao Ver. Gert Schinke,
com aprovação dos Vereadores José Valdir, Luiz Machado, João Dib e João Motta.
Dez minutos com Vossa Excelência.
O SR. GERT SCHINKE: Eu agradeço ao Ver. Edi Morelli e já me comprometo a ceder-lhe aparte.
Pela ordem, o Ver. Artur Zanella.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu sinto que V. Exª
não conheça nenhuma das obras que eu fiz em benefício da população mais
sofrida, e se V. Exª tiver a gentileza de ler, eu vou lhe encaminhar todos os
relatórios de todos os cinco anos no DEMHAB, um ano na Secretária dos
Transportes e um ano na Secretaria Extraordinária do Governo, e já alerto porque
muitos podem dizer que isto tudo foi feito com o dinheiro do Governo, mas é
exatamente para comparar com outros governos que tiveram as mesmas condições de
conseguir essas verbas, V. Exª poderá ver o que eu fiz de pavimentação, de
escolas, de creches, de esgotos, de lotes de casas. Vou lhe encaminhar para que
V. Exª não tenha uma imagem errônea da minha atuação.
O Sr. Edi Morelli: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, eu queria
parabenizar V. Exª por defender tão brilhantemente o Projeto de Lei do Ver.
Artur Zanella e ratificar o que V. Exª disse: o que se consegue para o povo
sofrido das vilas, para o pobre, senão migalhas?
O Sr. Clovis
Ilgenfritz: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.)
Eu quero parabenizar o nobre Vereador, companheiro do PT, e queria deixar muito
claro que também nós, da Bancada, junto com o Ver. José Valdir e outros, nós
entendemos a necessidade, eu não vejo qualquer mérito num tipo de Projeto como
este a não ser o reconhecimento da necessidade emergencial. As coisas chegaram
a um nível que não dá mais para agüentar, as pessoas estão passando fome,
mesmo, mas têm que produzir oito horas por dia ou nove ou dez, conforme o caso.
Então, o nosso discurso não é
para passar mel em alguém e ficar bem com todo o mundo; nós dissemos o que
pensávamos, mesmo. Se alguém abriu o coração aqui fui eu. Pode ser que isso
seja ruim porque o Ver. Fulano fica brabo, o outro fica sentido, mas eu não
posso esconder, num momento como este, uma coisa que há 30 anos, 40 anos, nós
estamos lutando, e agora de migalha em migalha nós vamos fazendo o que eu chamo
de desrespeito à dignidade humana, quer dizer, “dar aos pobres é emprestar a
Deus”. Só que quem dá aos pobres e empresta a Deus, os pobres vão para o céu, e
os ricos vão para o inferno. Mas os ricos vivem muito bem aqui. E assim é que
se dão as coisas neste sistema, o que vinga, e agora, mais uma vez, aqui,
continuo achando que há uma enorme hipocrisia por parte de alguns setores, não
estou dizendo que é o do nobre Vereador e colega que eu conheço, mas que esse
tipo de discurso não dá mais para a gente deixar passar, não dá. A população
vai saber, agora, que o povo vai ganhar o café da manhã, então vai ser muito
bom, todo mundo vai votar a favor do café da manhã, e isso aí vai resolver o
problema da população? É isso que eu quero que fique claro, aqui para os
arautos, para os defensores da pobreza, para aqueles que querem ver aumentar a
produtividade tomando uma taça de café com pão e manteiga, pela manhã.
O SR. GERT SCHINKE: Vereador, na nossa luta pelo socialismo, muitas vezes nós teremos que
fazer coisas que tenham, talvez, um nítido caráter reformista e que para mim
não é a solução definitiva do problema da exploração entre as classes sociais
que existe dentro de um estado capitalista. Não é! Mas, como disse antes, eu
quero reiterar, o que fizemos aqui, rotineiramente, é arrancar migalhas da
burguesia através de Projetos de Lei que concedem pequenos benefícios à grande
maioria da população. Só que esse – não é, Ver. Ilgenfritz – a União se arvora
o direito de conceder, e proibir isso aos Municípios. E eu, como municipalista
que sou, porque penso que localmente é que vamos pressionar os poderes que
existem neste País, muito bem consolidados; localmente é que vamos começar
a espraiar o poder da população fazendo frente à centralização do poder que se
fez aqui, através da Ditadura Militar, onde se concentrou o poder na mão do
Estado, através da União, onde hoje, em que pese as pequenas conquistas da
Constituição de 1988, ainda os poderes da União estão extremamente
concentrados, no meu ponto de vista. Cerceiam os municípios e os estados
através de uma série de questões em que poderiam legislar. Tenho bem presente
isto e por ter presente isto é que acho que nós, em um movimento mais amplo e
global, temos que resgatar o poder que têm os municípios para legislar
localmente sobre questões que a União se arvora a exclusividade de legislar.
Este é o princípio fundamental
que relego a um plano secundário: a questão da constitucionalidade. Mas tenho
certeza que para a opinião pública e para esta Casa, pelo menos eu estou com a
consciência tranqüila, o mérito para que se tenha votado este Projeto também
vai recair sobre a minha pessoa. Tenho certeza de que o Ver. Artur Zanella não vai
deixar passar em brancas nuvens o esforço que fizemos para aprovar um projeto
dele. E já mencionou isto anteriormente. O que me moveu a fazer isto foi
simplesmente o interesse que eu entendia que estava acima da velocidade com que
se protocolam os Projetos de Lei, acima da velocidade de certos Vereadores que
vão lá e protocolam. Acima disto coloquei o interesse dos trabalhadores, e foi
por isso que resgatei este Projeto para sua votação. Por isso encaminho e peço
a sensibilidade dos companheiros Vereadores, à unanimidade desta Casa para
derrubar o Veto e pressionarmos que a constitucionalidade ou não desse Projeto
seja discutida no âmbito da Justiça, entre ela e os empresários, e não nós
arcarmos com este ônus, que acho que é um ônus que não se justifica para uma
Câmara que se diz progressista e voltada a defender os interesses da classe
trabalhadora. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE
(Antonio Hohlfeldt): Com a palavra o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, às vezes eu fico sem entender o que se
passa na cabeça de alguns colegas Vereadores, e às vezes fico sem entender os
grandes juristas desta Casa, volto a dizer isto. Porque em determinadas
matérias os grandes advogados, os grandes juristas desta Casa defendem com
unhas e dentes uma determinada tese. Numa outra matéria praticamente idêntica
eles defendem outra tese.
Vejam que a questão da
inconstitucionalidade, neste caso, é tranqüila, nesse Projeto. E não é o Olívio
que diz, não sou eu que digo, é a Comissão de Justiça num Parecer do Ver. Elói
Guimarães, e não poderia ser outro Parecer. Ela é inconstitucional,
tranqüilamente. É diferente do horário de funcionamento do comércio, que era
tranqüilamente constitucional. Muitos Vereadores que hoje vieram aqui com esse
tipo de argumento, da outra vez diziam que o Projeto do sábado-inglês era
inconstitucional, mesmo estando explícito na Constituição Estadual que competia
ao município fixar o horário de comércio. Pois esses mesmos Vereadores, que
naquele caso diziam que o Projeto era inconstitucional, hoje criticam o Olívio
e querem aprovar um projeto totalmente inconstitucional. Nesse sentido, tem que
distinguir duas coisas. O Prefeito Olívio Dutra fez exatamente o que ele
deveria fazer, premido por um estado onde vigoram leis burguesas, pois não
tinha outra saída a não ser dizer que o Projeto era inconstitucional e pedir um
Veto. E ele que não tivesse feito isso, e hoje nós ouviríamos aqui um discurso
veemente do Ver. Isaac Ainhorn, do Ver. João Dib, dizendo que o Prefeito tinha
que cumprir as leis. Talvez o Ver. João Dib até pedisse o impeachment do
Prefeito, aliás, o Vereador é useiro e vezeiro em pedir o impeachment
por qualquer coisa. Certamente teria feito isto. Pediu uma vez e ameaçou cinco
vezes, que eu me lembro. Agora, limitado por um Estado onde vigoram leis
burguesas, o Prefeito Olívio Dutra agiu corretamente vetando esse Projeto,
dizendo que era inconstitucional, atitude que, aliás, embasou-se nas teses do
grande jurista desta Casa, Ver. Elói Guimarães.
Quanto ao mérito, a Bancada do
Partido dos Trabalhadores, ao que me consta, vai votar contra o Veto,
reconhecendo que Olívio Dutra ou qualquer companheiro do PT que estivesse na
Prefeitura, como Prefeito, fez o que tinha que ser feito. Aqui temos uma
liberdade maior, porque esta é uma Casa política, e assim eu e a maioria dos
companheiros que já se posicionaram, vamos votar contra o Veto. Quero entrar no
mérito: esse Projeto, Ver. Artur Zanella, não caracteriza anarquismo,
esquerdismo, nada disso; caracteriza uma visão moderna de capitalismo, que,
aliás, uma série de teóricos da burguesia vem advogando, dizendo que tem que se
dar boas condições de trabalho para os trabalhadores a fim de que produzam
melhor, visão essa, aliás, que embasa a social-democracia.
Então, não há nenhum anarquismo,
Ver. Zanella, não precisa se preocupar, porque V. Exª não virou anarquista nem
esquerdista; está apenas tendo uma visão moderna, arejada, do capitalismo
moderno. Outra coisa que é preciso deixar bem claro, desta tribuna, é que acho
inócuo cobrar do PT que ele estaria traindo os trabalhadores por não defender
projetos semelhantes a esse. O PT jamais defendeu o assistencialismo, quem
defende o assistencialismo é o PDS e outras siglas partidárias. O PT é um
Partido que defende o socialismo, o que significa negar o assistencialismo. É
importante estabelecer a diferença entre assistência e assistencialismo. O
assistencialismo é uma doutrina política que visa minorar os problemas sociais
através de algumas concessões, de algumas dádivas aos trabalhadores. O Partido
dos Trabalhadores se constituiu posicionando-se no seu programa contra esse
tipo de política, que vem sempre junto com o arrocho salarial. Os maiores
“arrochadores” sempre foram os maiores assistencialistas. Sarney, que arrochou
tremendamente salários, inventou o tíquete do leite; Collor de Mello, que faz o
mais brutal arrocho salarial e desemprego, também está com toda uma política
assistencialista para cima da classe trabalhadora. Então, historicamente a gente
constata – e não é por mera coincidência – essa junção entre uma política
assistencialista para iludir a classe trabalhadora e uma política de arrocho
salarial.
Agora, eu quero fazer uma
distinção: esse Projeto é diferente do tíquete do leite, porque o Projeto do
tíquete do leite e outros similares visavam compensar tremendas injustiças
feitas pelo empresariado selvagem que arrocha os salários dos trabalhadores,
com uma política de distribuição de migalhas, ou seja, com o dinheiro público
que é o dinheiro de todos. Deixava-se de investir em determinados setores
criando benefícios para toda a população, como educação e outros, e se aplicava
em tíquete do leite, “vale disso” e “vale daquilo”. Esse Projeto, pelo
contrário, obriga os empresários a mostrar que são modernos, a dar para os seus
trabalhadores uma compensação, e não à custa do dinheiro público, fazendo
gentileza com chapéu alheio, como outros programas sociais. Então, esse Projeto
tem uma especificidade. Agora, me parece que nós temos que ter muito clara a
política do assistencialismo. Todos aqueles que nesta Casa se dizem socialistas
ou de esquerda têm que ser contra ela, porque é tremendamente nefasta para a
classe trabalhadora, humilha e deseduca a classe trabalhadora. Vejam situações
como existem hoje, de trabalhador botando as mãos para o céu, agradecendo
porque tem hora-extra, trabalhador vendendo a sua saúde pela taxa de
insalubridade. Isto é o resultado da política de assistencialismo, que deseduca
e humilha a classe trabalhadora.
Eu quero deixar bem clara a
incoerência de alguns Vereadores, quando da votação do sábado-inglês, só para
apresentar uma das tantas contradições, e concordar com o que disse o Ver.
Back. Quem, na verdade, pode falar, votar com coerência somos nós, do PT,
porque muitos Vereadores, na discussão do sábado-inglês, alegavam que melhorias
conquistadas em Porto Alegre eram nefastas porque produziriam uma evasão de
capital para fora da Cidade, gerando uma quebradeira de empresas e, por
conseguinte, desemprego. Por isso não podíamos dar melhorias aqui em Porto
Alegre. Eu sempre defendi contra, acho que temos que começar por algum lugar a
conquistar determinadas coisas. E acho que este Projeto é de fato uma
conquista. Por isso vou votar contra o Veto. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Luiz
Machado está com a palavra.
O SR. LUIZ MACHADO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu quero dizer
que cheguei aqui nesta Casa como homem de trabalho, homem de luta, e
verdadeiramente, hoje à tarde, escutamos pronunciamentos de Vereadores de
segundo mandato, homens com experiência na Casa, experiência legislativa, e
nós, com os dois anos e pouco, ficamos um pouco silenciosos, às vezes. Dizem
que os silenciosos tiram mais proveito até mesmo que os bons oradores. No
silêncio se capta melhor o pronunciamento de Vossas Excelências.
O
Projeto do Ver. Artur Zanella, é claro que, pela manifestação da Comissão de
Justiça da Casa, procurando se ater à Constituição, ele é inconstitucional. Mas
não vou discutir o mérito, não vou entrar nesta área, não vou discutir, não sou
jurista, só li a Constituição, li o que está lá no art. 30 e no art. 22. É bem
claro que ali disciplina o que é competência da União e o que é competência do
Município.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.)
Ver. Luiz Machado, é que depois vou responder certas afirmações do Ver. Clovis
Ilgenfritz e do Ver. José Valdir, mas eu gostaria que V. Exª não se referisse, como fez o Ver. José
Valdir, ao capitalista selvagem, porque o selvagem não é capitalista, e isso é
uma ofensa para o selvagem, porque isso é um vício que as pessoas têm de que o
selvagem é ruim, e não é, Ver. José Valdir, não existe o capitalista selvagem,
porque eles não são capitalistas.
O SR. LUIZ MACHADO: Agradeço o seu aparte, Vereador. Sr. Presidente e
Srs. Vereadores, o que mais me chama a atenção, hoje, aqui nesta tribuna, é que
se está chegando perto das eleições de 1992, e tem gente que tem medo de perder
as eleições, parece que vão ficar desempregados ou qualquer coisa parecida. Eu
não tenho medo. E, com respeito ao Sindicato que está presente, vou me abster
na votação. Em primeiro lugar eu seria, depois dos trabalhadores, o segundo
interessado. Por quê? Porque eu tenho uma panificadora, e as panificadoras de
Porto Alegre vão vender mais pão no momento em que a lei obrigar as empresas a
fornecer o pão, a manteiga, o lanche para os trabalhadores antes do trabalho. É
evidente que quem produz o pão, as panificadores, vão ser agraciadas com esta
lei do Ver. Zanella, dos nobres Pares desta Casa. Mas eu não posso me ater a
isso apenas, tenho que votar com a minha consciência. Em segundo lugar, fiquei
um pouco admirado, deslumbrado até, com o pronunciamento do Ver. Clovis
Ilgenfritz. V. Exª, no seu pronunciamento, foi corretíssimo, mas quando
encerrou o seu pronunciamento foi de uma infelicidade que até parece que foi
atropelado, até parece um cara que está desfilando no carnaval e é atropelado
na avenida na hora do desfile. Não sei, V. Exª fez um pronunciamento pela linha
da moralização do Legislativo, da dignidade do ser humano e quando chega no
final diz que vai votar favorável. Os Vereadores do PT, com todo respeito que
merecem, dizem que aqui a Casa é política e têm de votar favoráveis. Eu, para
mim, tenho o meu pensamento, acho que não é por aí. Nós juramos cumprir uma Lei
Orgânica e temos que fazer cumprir as Leis. Agora, se alguma vez eu apresentar
um Projeto e tiver esse problema da inconstitucionalidade, fica na consciência
de cada um. Eu, sinceramente, me posiciono pela abstenção, porque acho que é o
caminho mais racional neste momento.
O Sr. Clovis Ilgenfritz: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.)
Realmente, Vereador, indignados com a forma como certas questões são colocadas,
até perdemos um pouco a paciência, a calma, extrapolamos um nível de
cordialidade, de respeito inclusive que deve existir. Agora, eu coloquei a tese
que nós defendemos há muito tempo, que não vai ser essa migalha que vai
resolver o problema. Por outro lado, nós estamos sujeitos, e acho que V. Exª
citou isso, a uma mídia que é infernal, é dominadora. Então, não há como nós
justificarmos perante a população a nossa coerência num ponto como esse. Então,
achamos que os empresários certamente vão entrar na Justiça, e quem sabe até o
Poder Executivo vai definir isso aí. E nós, enquanto isso, tentaremos soluções
mais duradouras, mais profundas.
O Sr. Leão de Medeiros: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.)
Eu prestei muita atenção ao seu discurso, e ele realmente está eivado de
coerência. V. Exª, em dezembro, quando esse Projeto foi votado, foi um dos
poucos que teve a coragem de votar contra. Por isso eu apelo, agora, que V. Exª
não reformule o seu voto se abstendo, mas sim vote com a sua consciência, como
foi em dezembro, contrário ao Projeto, pelos argumentos que V. Exª colocou.
O SR. LUIZ MACHADO: Agradeço ao nobre Ver. Leão de Medeiros, eu vou me
pautar pela minha consciência, e acho que vou fazer dela o meu caminho
político.
O Sr. Ervino Besson: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.)
Ver. Luiz Machado, naquela grande discussão que nós tivemos nesta Casa, quando
foi votado o sábado-inglês, eu nunca escondi da Direção do Sindicato a intenção
do meu voto, que era contrariamente ao sábado-inglês. E sempre coloquei a eles,
como votei favorável ao fechamento do comércio aos domingos. Agora, chamo a
atenção do Ver. José Valdir, eu acho que esta lei é constitucional, mas que
seja cumprida, porque ela não está sendo cumprida. V. Exª é um pequeno
comerciante, como nós temos muitos amigos que são pequenos comerciantes, que
são a favor do fechamento aos domingos. Eu tenho levado ao conhecimento do
Sindicato dos Funcionários para que alertem a SMIC, porque a SMIC não está
sabendo orientar aqueles comerciantes que vão ali pedir instruções, se fecham o
comércio ou não fecham. Esta lei não está sendo cumprida.
O SR. LUIZ MACHADO: É evidente que eu não vou ser um delator daqueles
comerciantes que estão abrindo aos domingos. Eu deixo para os fiscais da SMIC,
que eles vão fazer o cumprimento da lei.
Eu
também fiquei um pouco admirado com o pronunciamento do Ver. Heriberto Back.
Quer dizer que em todas as ocupações que houver em Porto Alegre terão o apoio
de Vossa Excelência? Sinceramente, é o primeiro Vereador que eu vejo usar esta
tribuna colocando nos Anais esta afirmação, defender a ocupação. Eu acho que
existe um limite. Deve haver uma disciplina, porque têm muitos aproveitadores.
Existem pessoas que têm três propriedades e vão ocupar propriedade alheia. Eu
conheço certas malandragens. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu não pretendia fazer uso da palavra
na discussão. Eu já me havia inscrito e desisti, mas depois voltei a me
inscrever, porque eu fui citado tantas vezes que é necessário que eu venha a
esta tribuna para dizer que eu sou um homem sempre coerente. Podem me acusar de
muitas coisas, menos de falta de coerência. Então, sou daqueles que não dizem como
o Ver. Gert Schinke: rasgue-se a Constituição, mude-se a Constituição. Não, eu
quero que a Constituição seja cumprida, lá no seu art. 7°, quando estabelece um
salário mínimo capaz de atender todas as necessidades do cidadão brasileiro. Eu
quero que ela seja cumprida, eu quero dar força à Constituição.
Em 1966 eu viajei à Alemanha, em
virtude de uma bolsa de estudos oferecida pela Cidade de Hamburgo, e uma das
coisas que eu achei notável era que um operário ganhava 900 marcos e um
engenheiro ganhava 1.400 marcos. Qual a semelhança entre os dois se um estudou
quinze anos e o outro, talvez um, talvez dois, talvez cinco anos, mas um
ganhava 900 marcos e o outro, 1.400 marcos. Qual a semelhança? Os dois podiam
viver com dignidade, com respeito de si mesmos. Qual a diferença entre os dois
salários? É que o de 900 marcos receberia e receberá a vida inteira 900 marcos,
porque é difícil crescer lá na Alemanha e o de 1.400 marcos, dependendo da sua
capacidade e competência, pode chegar a cinco, seis, oito, dez, quatorze mil
marcos, mas os dois continuarão podendo viver dignamente.
Então, eu quero é que a
Constituição seja respeitada. Eu quero que o salário mínimo tenha um valor que
devemos a ele atribuir. Este Projeto de Lei que está em discussão aqui é um dos
tantos Projetos de Lei que faz com que
o trabalhador seja desrespeitado. Estamos dando aos trabalhadores
porto-alegrenses uma esmola, para que, por algum tempo, eles silenciem. E eu
dou razão ao Ver. Clovis Ilgenfritz. Para que por algum tempo ele silencie, e com isto nós ficamos levando,
levando, levando. O trabalhador se acomoda, mas eu preferiria que ele
recebesse, ao invés do café com leite, com pão e manteiga, o dinheiro capaz de
comprar isso, para que ele tivesse também para o seu filho e para sua esposa o
café com leite, pão e manteiga, para que seu salário fosse dignificado. Não vou
culpar o operariado brasileiro nem os empresários brasileiros; vou culpar os
políticos que fazem um monte de leis para enganar, não para resolver o problema
na sua plenitude e para que todos possam viver com dignidade. Acho que não dá
para dizer se esse Projeto é
inconstitucional ou não, porque a Justiça está analisando, ela dirá melhor do
que nós, mas, quando se votou esse Projeto de Lei, vi que o PT apoiava, mas à semelhança do Prefeito Alencar, no Rio
de Janeiro, era muito bom para os empresários darem café com leite, pão e
manteiga. Então emendei e quando emendei ficou-se sabendo que o Prefeito Olívio
Dutra vetaria porque a Prefeitura tem que dar o café com leite, pão e manteiga
aos seus servidores. E mais, a partir do momento da sanção da lei, que não se
diga que não temos como fiscalizar o que vai acontecer. Temos, sim! O art. 57,
III, da Lei Orgânica do Município diz como devemos proceder. É claro que foi
dito, aqui, pelo Ver. José Valdir que eu era campeão do impeachment.
Não, eu só fiz uma vez e parece que fui o único Vereador a pedir o impeachment
do Prefeito ao longo da história desta Cidade. Se no meu pedido de impeachment
não tive o acompanhamento da Câmara Municipal pela sua maioria – e deveria
ter –, pelo menos obriguei o Prefeito a vir a público dizer que havia mentido,
que os servidores poderiam ter recebido seu dinheiro no dia 31 de janeiro do
ano passado, ele tinha mais de cem milhões de cruzeiros no open e no
over e que precisava de apenas 60 milhões para ter pago toda a folha.
Depois ele pagou – e esta Casa registrou – sem juros e correção monetária,
desrespeitando um Parecer da Procuradoria, que ele havia homologado, dizendo
que neste caso deveria ser pago com juros e correção. Portanto, pedi o impeachment,
pediria de novo porque tenho convicções, mas não tenho nada contra o Projeto de
Lei de que agora está sendo analisado o Veto. Só acho que nós estamos
tentando prolongar a miséria e que talvez outros interesses ao longo deste País
estejam disfarçados quando se acusa a Bancada do PDS sempre.
Talvez outros tenham interesse de
que a coisa continue assim, assim como se vem a esta tribuna e se fala dos
agricultores presos, mas se existe um Código Penal e um Código Civil, por que
ninguém foi à Justiça tentar tirá-los? Não interessa, o que interessa é
mantê-los lá e continuar falando. Então interessa para muita gente agredir, e
agredir o PDS é uma das coisas mais fáceis, agredir este dirigente do PDS é
muito fácil, porque fica tudo por isso mesmo. Falar na mídia que levou o Collor
à Presidência da República é esquecer a mídia muito poderosa desta Cidade e que
está fazendo até o Olívio Dutra parecer um bom Prefeito. Nós temos que ter
coerência e seriedade, nós não podemos enganar a população. Eu quero ver este Veto ser derrubado. A minha Bancada não
tem posição fechada, nós vamos votar de acordo com nosso entendimento. Nós
somos democratas, nós não temos posição fechada, mas eu quero ver derrubado o
Veto pela Bancada do PT, inclusive, eu quero ver o Prefeito começar,
imediatamente, a dar aos servidores do Município, e o Presidente da Câmara
Municipal dar aos servidores da Câmara, café com leite, pão e manteiga. Chega
de enganar! O que nós precisamos mesmo é a Constituição na sua plenitude, que o
salário dignifique o homem, que ele não tenha que receber esmolas para a sua
sobrevivência. Não precisa do ticket do leite, ele precisa dinheiro para
comprar o leite para ele e seus filhos. Ele não precisa do vale-transporte, e
eu falo com toda a tranqüilidade de quem foi o primeiro a utilizar o
vale-transporte neste País, foi a Prefeitura de Porto Alegre, na Administração
João Antonio Dib. Ninguém antes usou o vale-transporte, e com esta
tranqüilidade de quem o fez um dia, hoje eu entendo diferente: o que nós
precisamos é que os salários sejam dignos daqueles que dão o seu esforço, o seu
suor, a sua vida para que este País cresça. Não podemos iludir todos em todo o
tempo, e nós já estamos fazendo há muito tempo a ilusão dos trabalhadores deste
País, dando a eles migalhas de um bolo que é grande e que poderia ser dividido
de forma diferente. Nós estamos fazendo isso.
Eu não estou culpando operários
nem empresários, eu estou culpando aqueles que são políticos, que foram levados
às suas tribunas para representar os interesses do povo, para dizer o que é
melhor para o povo, para sentir os anseios da população e não fazer leis
demagógicas, que, aparentemente, dão tranqüilidade, mas que deixam a
insatisfação permanente, porque, se eu tomo café com leite, pão e manteiga,
sabendo que o meu filho não tem a mesma coisa, eu não posso ter prazer, nem
força, em razão desse minguado café com leite, pão e manteiga. E, depois, fazer
leis, por exemplo, hoje uma empresa do ramo financeiro, eu acredito, ou
securitário, a APLUB está dando um curso supletivo aos seus trabalhadores,
amanhã vai aparecer um Vereador aqui determinando que se dê curso supletivo aos
trabalhadores porto-alegrenses; e nós estaremos, mais uma vez, estendendo uma
migalha, enganando o trabalhador porto-alegrense e brasileiro, porque, na
realidade, nós não estamos preocupados seriamente, profundamente, com o grande
problema, que é a aplicação da Constituição Federal, onde o salário mínimo dá
dignidade e honra ao trabalhador. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Motta está com a palavra.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente, eu não pretendo usar os dez minutos. Eu me entusiasmei
com as intervenções de alguns companheiros da Bancada e alguns Vereadores;
resolvi, em três minutos, sintetizar a minha posição sobre essa discussão, e a
primeira delas é de natureza teórica. Eu me lembro, e ainda está presente na
minha memória, não sei se é o mesmo caso do Ver. Vieira da Cunha, e outros
Vereadores mais jovens, sem nenhum preconceito aos demais, mas que pegaram a
fase do fim do curso da Faculdade de Direito, quando se desencadeou um
movimento, a partir, fundamentalmente, da figura que, infelizmente, já não está
mais no nosso meio, Roberto Vieira Filho. Parece que o Vereador, digno Relator
dessa matéria, também acompanhou esse movimento, que era, em síntese, por uma
nova interpretação da norma jurídica, através da chamada “Nova Escola de
Direito”, se não me falha a memória; e eu vivi novamente essa discussão que se
levantou aqui, Ver. Elói Guimarães, através, inclusive, de um debate que se
teve recentemente na Mesa da Assembléia Legislativa do Estado sobre a questão
da constitucionalidade, nos levando para aquela discussão, onde, em síntese,
acho que aquela elaboração estava correta, porque, vejam bem, se não
admitirmos, como fonte do direito, os fatos sociais, estaremos admitindo que a
única fonte do direito são os ordenamentos jurídicos, os códigos, e isso não é
verdade, porque iremos cair na constatação feita pelo Ver. Dib, e que está
correta. Portanto, a lei que prevê o salário mínimo é uma verdade absoluta e
deveria estar em vigência; portanto, interpretando como fonte justa e correta
do direito-código, vamos entrar nesses pepinos, e a chamada interpretação
positivista do direito não encontra saída para isso, porque ela é falha, ela
tem esse problema.
O segundo argumento é que em
conseqüência disso, o direito passa a ser uma imposição sobre a sociedade, e o
Estado passa a ser o ente que está acima de tudo, o ente portador da verdade
absoluta para a sociedade; portanto, todo o ordenamento jurídico que vem do
Estado é a verdade, bastando que, para que se encontre a felicidade e a
convivência democrática entre os cidadãos, se obedeça àquilo que o Estado determina
através de seus códigos. Isso é uma falsidade, um arbítrio, um totalitarismo
nas sociedades que vimos recentemente implodir no Leste Europeu. Portanto, essa
discussão sobre a constitucionalidade, Ver. Zanella, eu acho que é importante
situarmos no tempo e no espaço, até mesmo para resgatarmos essa discussão de
fundo que estamos nos debatendo não só no Brasil, mas em vários outros países
que discutem e tentam construir uma nova ideologia jurídica, não a ideologia
tradicional, dogmática e positivista. Digo isso tudo para afirmar que acho
perfeitamente justo e correto que a Bancada do PT se posicione como a maioria,
até porque queremos saber se esta lei é ou não justa, se tem a viabilidade de
atender uma demanda social determinada. Vou dar apenas alguns dados sobre a
situação, que me convenceram plenamente desta questão, de que é importante
aprovarmos esta Lei, derrubando o Veto. Existe uma empresa, Ver. Artur Zanella,
a Zivi-Hércules, que tinha o café da manhã como sendo um direito elementar.
Nós, aqui, não estamos falando nem na jornada de trabalho, nem na questão da
estabilidade de emprego e nem na questão do salário justo. Vejam bem, o café da
manhã, uma refeição, e a Zivi-Hércules, há questão de uns três anos, retirou o
café da manhã, e era um direito elementar, um direito, digamos, quase que
“pré-trabalhista”, usando aqui uma simbologia, evidente que isso é entre aspas,
e retirou, e a partir deste movimento desencadeou dentro da empresa uma
ofensiva sobre os demais direitos trabalhistas, que são direitos fundamentais,
por isso quero ver qual a posição desta empresa sobre esse direito elementar.
Vai ser a primeira empresa que eu, pessoalmente, gostaria de testemunhar para
saber o seu posicionamento sobre essa própria lei, porque lá, hoje, depois de
eles terem acabado e abolido com o café da manhã, eles demitem, por exemplo,
cipeiros, demitiram agora, esta semana. Inclusive, o Sindicato dos
Metalúrgicos, que estivemos homenageando nos seus 60 anos, foi obrigado a
entrar com uma ação de reintegração, na Justiça, para resgatar a estabilidade,
porque é uma Lei de muitos anos no Brasil.
Então, vejam que precedentes se
nós, hoje, objetivamente, não tivermos uma posição clara. Não que esta Lei vá
resolver os problemas dos direitos trabalhistas dos empregados da Zivi-Hércules,
bem como das demais empresas de Porto Alegre. Não se trata disso. Trata-se de,
sempre que for possível, tencionarmos essa discussão sobre a
constitucionalidade ou não das leis, porque quem quer interpretar o Direito
como algo absoluto, como algo que, feita a lei, em si ela resolve o problema
social, vai seguir desrespeitando e cumprindo as leis de acordo com o seu
interesse ou com o direito do Estado, e não abrindo mão e, conseqüentemente,
assumindo esta visão, e me parece que a mais correta, de que a Lei deve estar
articulada com o fato social.
Por fim, gostaria apenas de
registrar que esta empresa, inclusive, e esse é um outro dado de um outro tipo
de Direito, que não é obedecido pela maioria das empresas em Porto Alegre, da
área metalúrgica, a média salarial de um associado do Sindicato dos
Metalúrgicos é de quarenta mil cruzeiros. Um gari do Município de Porto Alegre
ganha quarenta mil cruzeiros. Não que um trabalho seja mais digno do que o
outro, não se trata disso. É para nós vermos o quanto se paga mal e o quanto se
achata o salário dos metalúrgicos, apenas para dar um exemplo. Portanto, nessa
discussão, também nos interessa resgatar esses interesses. Vou dar um outro
dado mais indignante ainda, o piso salarial da categoria metalúrgica de Porto
Alegre, os companheiros Vereadores sabem o quanto é hoje? É de dezessete mil e
seiscentos cruzeiros. É revoltante e indignante. Portanto, fiz questão de
intervir para tentar levantar essa discussão sobre os direitos e sobre as
fontes do direito e sua interpretação na norma.
O Sr. Gert Schinke: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Companheiro Motta,
queria rapidamente fazer duas colocações: a Prefeitura Municipal de Porto
Alegre, através do DMLU, já concede o lanche por meio de uma empresa privada a
todos os seus funcionários. Eu sou testemunha disso, inclusive há pouco tempo,
visitando o lixão da Zona Norte, pudemos observar isso. E é um lanche e tanto.
Olha que se a pessoa não estiver com muita fome não consegue comer tudo. Tenho
certeza que o Prefeito Municipal, depois de promulgada esta Lei, através da
Câmara de Vereadores, vai acatar esta Lei e vai estendê-la a todos os seus
funcionários, assim como tenho certeza que o Presidente desta Casa, a Mesa
desta Casa vai estender esse benefício a todos os trabalhadores desta Casa.
Essa Lei, eu entendo que nós vamos hoje derrubar, e a Câmara de Vereadores vai
promulgá-la, ao que me parece é esse o desencadeamento jurídico. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Elói Guimarães.
O SR. ELÓI GUIMARÃES:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, este Veto aposto
ao Projeto de autoria do Ver. Artur Zanella é, do ponto de vista da
constitucionalidade, absolutamente procedente. É bom que coloquem nesta
discussão estas questões, porque, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a
Constituição da República, ao estabelecer as competências na distribuição das
três esferas de Governo, Executivo, Legislativo e Judiciário, entregou assunto
desta natureza, matéria do Direito do Trabalho ao Poder Executivo, à União.
Trata-se de matéria que reserva às Constituições, em especial a de 1988, à
União, ou seja, à esfera federal e não estadual e muito menos municipal.
Então, é neste sentido que nós,
examinando a matéria, entendemos por se tratar de matéria absolutamente
inconstitucional. É bom que se frise que, ao analisarmos no seio da Comissão de
Justiça e, posteriormente, o Veto, nos manifestamos estritamente na questão da
constitucionalidade. É matéria inconstitucional o Projeto do Ver. Artur
Zanella? É matéria inconstitucional. O Prefeito Municipal, ao vetar, procedeu
na conformidade da Lei, da Constituição? Procedeu. É bom que fique claro isto.
Evidentemente, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que nós, na questão do mérito,
vamos votar contrariamente ao Veto, mas temos que deixar bem claro para não dar
aqui um atestado de ignorância. Então, vejam V. Exªs que há de ficar
extremamente clara esta posição de alguém, inclusive, que foi relator. Trata-se
de matéria inconstitucional. Mas veja que nós teríamos que encontrar, aqui na
Câmara, em face de todo um conjunto de lacunas, de todo um anseio, porque a
Casa reflete inquestionavelmente os anseios da sociedade, as aflições da
sociedade, as aflições dos trabalhadores e dos diferentes segmentos da
sociedade porto-alegrense se reflete nesta Casa. Então, nós
precisaríamos possuir, na Casa, mecanismos capazes de superar questões desta
ordem. Então, me acorre aqui uma figura, que no nosso entender superaria esta
dificuldade intransponível que nós possuímos, de receber posteriormente uma
medida do Prefeito Municipal ao Poder Judiciário, tornando absolutamente inócua
a nossa decisão, porque na medida em que a Câmara rejeita o Veto do Sr.
Prefeito Municipal, o que faz a Câmara? Ela constitui o direito, ela constitui
a Lei. O Prefeito Municipal suscita o Poder Judiciário, e este
inquestionavelmente vai dizer que efetivamente a Lei era inconstitucional, por
disposição literal e expressa da Constituição. Isto é questão, me parece, que
despicienda porque há um impedimento do conjunto das discussões que se
desenvolveram a respeito desse Projeto. Trata-se de matéria inconstitucional,
evidentemente, que no mérito, por se tratar de uma reivindicação, justa,
mormente num momento de arrocho salarial. Tem mérito a matéria, e nós vamos
votar pela derrubada do Veto. Mas fique claro, para que a Casa não seja motivo
de chacota nem de zombaria, que nós conhecemos, todos, bem claramente esta
realidade. Vamos derrubar o Veto porque o Veto ele atende indispensável à hora
em que vive o País, onde os trabalhadores sofrem um dos arrochos salariais mais
altos de toda a história. É nesse sentido que nós encaminhamos esta discussão.
Quanto ao aspecto da
constitucionalidade, se trata de matéria inconstitucional. Basta tomarmos em mãos
a Constituição da República e vermos a distribuição de competência para
sabermos que se trata de matéria inconstitucional. Não vale invocar, até por
uma questão de princípio jurisdicional do País, jurisprudência. “Ah, mas o
Tribunal do Rio de Janeiro, o Tribunal de Pernambuco, examinando matéria, assim
decidiu”. Isso não funciona na Justiça brasileira. Portanto, Sr. Presidente e
Srs. Vereadores, fica claro, para entendimento de terceiros e para a opinião
pública. É matéria inconstitucional? É matéria inconstitucional. Nós vamos
derrubar o Veto? Sim, vamos derrubar o Veto para ver mérito indiscutível na
iniciativa.
O Sr. Gert Schinke: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu penso, Vereador,
que a aprovação desta Lei não vai ser motivo de chacota. A grande imprensa tem
retratado com a maior seriedade esse aspecto das pequenas conquistas na área
trabalhista e muito mais sob a ótica do resultado que pode dar na
produtividade, ou seja, do ponto de vista empresarial e também na diminuição
dos acidentes de trabalho, que é um elemento extremamente importante que está
ligado ao fato de o trabalhador estar bem alimentado.
Mas no que toca à sua preocupação
da constitucionalidade ou não, é importante registrar que, numa reportagem em
“O Globo”, o Roberto D’Ávila, Secretário de Governo do Rio de Janeiro coloca,
como argumento central, que a Lei não afronta a Legislação Trabalhista, porque
na Legislação, o horário que obriga as empresas a fornecerem o tal café da
manhã é fora do horário de trabalho. Isso, de fato, confere. Numa releitura que
fiz do caput da lei, o seu art. 1° não menciona que o café deva ser dado
no horário de trabalho. De maneira que acho que este argumento é muito
substantivo na Justiça, no que toca à constitucionalidade.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vereador, quanto às
votações nos tribunais, houve somente um caso, e os empresários perderam.
Mas o que não quero, Vereador, é
que se seguirmos à risca esta idéia de que é privativo da União, por exemplo,
Ver. Elói – eu não vou ter o brilhantismo de V. Exª, não possamos mais legislar
sobre projetos de trânsito, sobre transporte, que estão no mesmo art. 22. E não
teríamos a possibilidade de votar um Projeto que V. Exª deve ter votado,
também, como o do ex-Vereador Pedro Ruas, que fala no transporte fluvial.
Aprovamos e também está aqui proibido.
O SR. ELÓI GUIMARÃES:
Sou grato pelo aparte de Vossa Excelência. Então,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, para encerrar, nós entendemos que se trata de
matéria inconstitucional, mas tem todo o mérito e haverá de receber o nosso
voto para somar-se à derrubada do Veto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE
(Leão de Medeiros): O Ver. Omar Ferri está com a palavra para discutir.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, preliminarmente, eu peço escusa por
usar estes dez minutos. Eu acho que a Casa já esteja suficientemente
esclarecida com relação a este Projeto de Lei e ao Veto formulado por S. Exª o
Sr. Prefeito Municipal. Mas eu ouvi, ouvi e ouvi e resolvi também dar minha
opinião: às folhas 7 do Processo existe uma exposição de motivos, subscrita
pelo Ver. Gert Schinke, onde ele destaca dois fatos na minha opinião,
fundamentais. Diz ele que diariamente milhares de trabalhadores iniciam sua
jornada de trabalho em condições de subnutrição; diz também que estudos
comprovam que, com o fornecimento do café, pela manhã, pelas empresas, os
acidentes de trabalho teriam uma redução de 40%, e os índices de produtividade
aumentariam.
Alguém veio a esta tribuna dizer
que isto seria hipocrisia ou farisaísmo, porque, se os índices de produtividade
aumentariam, aumentaria também o lucro patronal.
Contudo, nossa consciência nos
informa que não podemos fugir de uma realidade, ou de um princípio de economia,
pois toda vez que a produtividade aumenta, conseqüentemente o lucro aumenta
também. É uma lei econômica fundamental dentro de uma estrutura capitalista, e
nenhum Vereador pode se dar ao luxo de fugir dessa realidade. Lembro-me quando
a minha mulher era professora do Grupo Escolar Martins Costa Junior, na Av.
Borborema, no Bairro São José, nesta Capital, quantas vezes ela retornava e
dizia que os estudantes não tinham café com leite em casa, e que aquele café
com leite dado no colégio era essencial, era substancial, inclusive, entendo
eu, para a formação biológico-cultural de uma criança.
Por isso que não me preocupa se
este Projeto de Lei é inconstitucional ou constitucional. Quem tiver certeza
absoluta que este Projeto é inconstitucional que aponte um dispositivo
concreto, correto, adequado, específico, mas que não me venham apenas dizer que
por envolver relações de trabalho este Projeto de Lei é inconstitucional. Não
é! Por isso só não, porque cabe ao Município, em decorrência do inciso I do art.
30 da Constituição Federal, legislar sobre assunto local. O que importa, indago
a V. Exªs se esta Lei é inconstitucional ou não. Se ela é
inconstitucional, ela não seria injusta? Uma lei iníqua? Não seria uma lei
anti-social? E não seria, acima de tudo, uma lei desumana?
Este Poder Legislativo diz muito
com os direitos humanos, que são direitos sagrados da pessoa humana. Poderia
evocar que esta Lei seria antiideológica porque seria apenas reformista ou
reformulista, e eu pergunto aos senhores: qual o fato ideológico que
impulsionou a atual sociedade humana, simplesmente por ser fato ideológico? O
que impulsiona, o que muda, o que altera e modifica é o fato, não importando
que ele seja ideológico. Agora, a verdade é que nestes últimos tempos os
avanços sociais são reformistas ou reformulistas. Em matéria de ideologia
estivemos andando para trás. Vou votar pela derrubada do Veto, conscientemente,
tranqüilamente, entendendo que fui convencido de que o Projeto está correto.
Além do mais, eu devo salientar, se
não estou errado, e existem documentos comprobatórios dentro destes autos, que
um Deputado que eu admiro muito e prezo muito e conheço a sua carreira política
neste País, que é um Deputado chamado Aarão Steinbruch, apresentou um Projeto
idêntico na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Depois ele foi Deputado
Federal, Senador e cassado em 1964. Eu, sinceramente, não vejo como se possa
acoimar o Projeto de Lei de inconstitucional. Há uma área, nesse entorno, meio
nebulosa, meio estranha, não muito clara, meio confusa, das coisas que são e
das coisas que não são inconstitucionais. Quem de nós tem segurança absoluta em
dizer quando um Projeto de Lei é inconstitucional ou não? Se não fere
frontalmente o dispositivo constitucional não temos este direito, porque seria
apenas um direito que nasce de uma interpretação meramente subjetiva, de um
entendimento eminentemente pessoal.
Portanto, eu discordo dos
Pareceres, que concluíram pela inconstitucionalidade deste Projeto e vou,
tranqüilamente, de acordo com a minha consciência, votar pela derrubada do
Veto. Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Em votação. Com a palavra o Ver. Artur Zanella, para encaminhar.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, se o Ver. Lauro Hagemann vai encaminhar, eu lhe deixo
este local, porque eu simplesmente assomei à tribuna para ter tempo de os
nossos colegas serem avisados da votação. Eu só peço, Sr. Presidente, o voto e
pretendo futuramente responder ao discurso, principalmente o do Ver. Clovis
Ilgenfritz da Silva. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE
(Airto Ferronato): Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu não pretendia
e continuo não pretendendo discutir este assunto, até porque a questão está
colocada em dois patamares diferenciados. Um na questão legal e outro na
questão fática, que é a questão social.
Eu não vou enveredar pela questão
legal porque aí, se nós formos rigorosamente legalistas, vamos encontrar vários
argumentos para não aprovarmos ou para não rejeitarmos o Veto. Mas eu quero me
cingir à questão social, à questão fática. Não sou jurista, não tenho formação
de jurista, mas sempre ouvi dizer que os fatos sociais é que fazem a lei, são
eles os que originam a lei. Nós estamos de certa forma contribuindo, ao
rejeitarmos o Veto, para criarmos um fato social que é o da exigência de se
conceder o café da manhã aos trabalhadores em geral do Município de Porto
Alegre.
Então, essa é a razão por que o
meu Partido, eu, a minha assessoria, julgamos interessante sob esse aspecto
rejeitarmos o Veto e aprovarmos o Projeto, embora saibamos que isso possa gerar
uma discussão muito longa. Não é ilusório para nós, que muita gente, muitos
empresários vão se recusar a cumprir uma Lei Municipal. Mas o fato social de
certa forma está criado e, conseqüentemente, amanhã ou depois, poderá esse fato
social acumulado com outras capitais, outras cidades, como já se tem notícia,
criar uma fonte de direito que seja a extensão do café da manhã para todos os
trabalhadores deste País. O Ver. João Dib pinçou bem, e eu tive a pachorra de
reler a Exposição de Motivos que acompanha o Veto total ao Projeto, e diz
exatamente o que disse o Ver. João Dib. O que se pretenderia, o que se gostaria
que acontecesse é que cada trabalhador tivesse condições, com salário justo de
proporcionar o café da manhã que lhe fosse mais conveniente e não uma esmola.
Mas, infelizmente, nós estamos numa tal conjuntura, não é de hoje, isso vem de
muito tempo, que os trabalhadores são obrigados a estes ganhos adicionais, que
é a passagem, que é o café, que é uma série de coisas, para melhorarem os seus
salários indiretamente. É lamentável que um pai, chefe de família, vá tomar o
café na empresa, e que seus filhos, em casa, não têm este café. Isso é um fato.
Agora, a nossa luta é, e tem sido durante muito tempo, a de proporcionar aos
trabalhadores um salário digno que permita a eles terem, eles e seus filhos,
não só este café, mas educação, transporte, saúde da melhor qualidade, sem ter
que recorrer a estes subterfúgios. Mas, enquanto isso não vem, eu acho que esta
Casa pode agir na direção de criar o fato social. Por isso é que se recomenda a
rejeição do Veto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. 1° Secretário para verificação de
"quorum", a requerimento do Ver. Clóvis Brum.
O SR. 1° SECRETÁRIO: (Procede à verificação de "quorum".) Há "quorum",
Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Em votação o Proc. nº
1021/89, Veto Total ao PLL nº 101/89.
Solicito ao Sr. 1° Secretário
que proceda à chamada nominal dos Srs. Vereadores para a votação.
O SR. 1° SECRETÁRIO: (Orientando os Srs. Vereadores.) “Sim” aprova o Projeto e rejeita o
Veto; “Não” rejeita o Projeto e mantém o Veto. (Procede à chamada e coleta os
votos dos Srs. Vereadores.) Sr. Presidente, 20 Srs. Vereadores votaram SIM,
03 Srs. Vereadores votaram NÃO e 03 Srs. Vereadores optaram pela ABSTENÇÃO.
O SR.
PRESIDENTE: APROVADO o PLL n.° 101/89, considerando-se rejeitado o Veto Total a ele aposto.
Solicito ao Sr. Secretário que
proceda à leitura da Declaração de Voto, de autoria do Ver. Leão de Medeiros.
O SR. 1° SECRETÁRIO
(Lê.): “Declaração de Voto. Voto contra o Projeto,
acolhendo o Veto, para manter coerência com o voto contrário ao Projeto que
proferi em 05 de dezembro de 1990. Já naquela ocasião, muito embora
reconhecendo o mérito da iniciativa constante em seu bojo (fornecimento de
refeição matinal aos trabalhadores), entendo ser o mesmo manifestamente
inconstitucional e, como tal, não será com o meu voto que esta Câmara
convalidará, conscientemente, uma lei inconstitucional. Sala das Sessões, 1° de
abril de 1991. (a) Ver. Leão de Medeiros”.
(Votaram SIM os Vereadores Airto Ferronato, Artur
Zanella, Clóvis Brum, Clovis Ilgenfritz, Cyro Martini, Dilamar Machado, Edi
Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Gert Schinke, Isaac Ainhorn, Jaques
Machado, João Motta, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Nereu D’Ávila, Vicente Dutra,
Vieira da Cunha, Wilton Araújo e Heriberto Back. Votaram NÃO os Vereadores João
Dib, Leão de Medeiros e Wilson Santos. ABSTIVERAM- SE de votar os Vereadores Giovani Gregol, Luiz Machado e Vicente Dutra.)
PROC. Nº 0871/ 90 – VETO TOTAL ao PROJETO DE LEI
DO LEGISLATIVO Nº 044/90, de autoria do Ver. Omar Ferri, que faculta a colocação de guard
rails na Av. Ipiranga e dá outras providências.
Pareceres:
- da CUTHAB. Relator Ver. Artur Zanella: pela rejeição do Veto;
- da COSMAM. Relator Ver. Ervino Besson:
pela rejeição do Veto;
- da CEDECON.
Relator Ver. Wilson Santos: pela rejeição do Veto.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão. Não há
oradores inscritos para discutir o PLL n° 044/90. Passa-se à votação nominal.
Em votação.
Solicito ao Sr. 1° Secretário que proceda à chamada nominal
dos Srs. Vereadores para a votação.
O SR. 1° SECRETÁRIO: (Procede à chamada e
coleta os votos dos Srs. Vereadores.) Sr. Presidente, 14 Srs. Vereadores
votaram SIM, 01 Sr. Vereador votou NÃO e 01 Sr. Vereador optou
pela ABSTENÇÃO.
O SR. PRESIDENTE: Não
havendo "quorum" deliberativo, fica anulada a presente votação.
(Levanta-se a Sessão às 17h59min.)
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